Entre Vizinhos

As portas do Museu Gulbenkian abriram-se para os habitantes seniores das Avenidas Novas

Em 2017, o Serviço Educativo do Museu Calouste Gulbenkian criou “Entre Vizinhos”, um projeto destinado à comunidade sénior da freguesia das Avenidas Novas, com o propósito de fortalecer os laços de vizinhança entre o Museu e esta comunidade. As mediadoras culturais Diana Pereira e Joana Andrade começaram por desenvolver visitas e atividades em coordenação com os três centros de dia participantes (Associação de Auxílio Social de São Sebastião da Pedreira, Associação para o Desenvolvimento e Apoio Social – Bairro do Rego, e o Centro de Dia Rainha D. Maria I), procurando envolver esta população com o espaço do Museu e da Fundação, promover o bem-estar e a aprendizagem ao longo da vida, combater o isolamento e fortalecer os hábitos culturais da comunidade local sénior.

Em 2018, foi convidada uma artista plástica, Ana João Romana, para levar o projeto mais longe. Das oficinas que desenvolveram juntos ao longo de alguns meses resultou um livro de artista e uma instalação que ocupou vários espaços públicos em torno da Gulbenkian. O livro “24 Estórias Entre Vizinhos” – que hoje pode ser encontrado na biblioteca da Tate Modern, em Londres, ou do MoMa, em Nova Iorque – feito manualmente pelo grupo, contém retratos dos vários participantes, contando histórias baseadas nas memórias que estes descreveram sobre o bairro ou episódios que viveram na Fundação.

 

Em 2019, a artista convidada foi Tânia Cardoso, membro do grupo A Monda Teatro-Música, que em poucas semanas criou com os participantes uma apresentação performativa que tecia relações entre a música do cancioneiro tradicional lusófono, a criação de paisagens sonoras e as obras da Coleção Moderna. A artista quis saber “quem são estes lisboetas?” e, a partir daí, o objetivo foi “fazer a ligação entre as referências deles, mais ligadas a uma memória rural, que depois desagua na cidade, e as obras de arte da Coleção Moderna”, e assim “transformar em música, em som e com alguma teatralidade as memórias de cada um”.

Para Leonor Boavida, que participa no projeto desde o início, o melhor da experiência é a interação que este proporciona. Nas suas palavras, “conhecer pessoas completamente diferentes, que moram no meu bairro mas que eu poderia passar por elas e nem sequer interagir com elas”. Para esta vizinha de há várias décadas, que diz ter tido sempre “muito carinho pela Fundação”, as atividades desenvolvidas ao longo dos anos permitiram-na integrar-se melhor no Museu e na Fundação, conhecer as pessoas que aí trabalham e envolver-se com diferentes projetos artísticos em que nunca teria imaginado participar.

Já Almerinda André não conhecia a Fundação antes de o projeto iniciar, apesar de circundar frequentemente o jardim. Três anos depois, diz com orgulho que já se sente “à vontade para entrar e desfrutar”. E explica: “eu não sabia por que lado havia de começar nem sabia o que vinha ver, e agora já sei: vou ver o que mais me interessa, o que mais me desperta a curiosidade, mas sei que posso entrar aqui como qualquer outra pessoa”.

O trabalho com os artistas é importante para a aproximação dos participantes à Fundação e à arte contemporânea, desafiando-os a envolverem-se em criações artísticas originais. Segundo Diana Pereira, “Trabalhar com as comunidades envolventes de forma continuada é algo que cada vez mais faz sentido às instituições culturais e ao Museu Gulbenkian. Significa que estes espaços passam a ser espaços de encontro das pessoas que vivem à volta da instituição; não são espaços apenas visitados por turistas ou por grupos escolares”. 

Ao longo destes 3 anos, realizaram-se 106 oficinas, das quais 24 eram destinadas a todo o grupo dos “Vizinhos”. A experiência adquirida com este público-alvo tem levado a equipa educativa a desafiar outros grupos seniores a juntarem-se a visitas participativas e mesmo performativas.

Em 2020, devido à pandemia, o projeto “Entre Vizinhos” adaptou-se ao formato online promovendo encontros digitais regulares tanto com o grupo inicial de participantes, como com um novo grupo da Academia Sénior da Junta de Freguesia. Continuou-se, assim, a combater o isolamento enquanto se aprofundavam capacidades de observação e de partilha de opiniões, estimulando-se a imaginação e a liberdade criativa. O grupo da Academia Sénior trabalhou conceitos como a certeza, o respeito, o envelhecimento e a mudança. E o grupo inicial dos “vizinhos” através da interpretação das obras de arte explorou a escrita criativa. E destes trabalhos nasceu uma publicação, intitulada Vizinhos na Arte de Reinventar, onde se partilha estas histórias, textos e poemas com um voto renovado de esperança, desejando que a “arte de reinventar” permaneça acesa dentro de todos nós.

Assim sendo, os desafios da tecnologia não demoveram os seniores de aprender novas competências digitais para conseguirem estar juntos e partilhar momentos de criação, inspiração e intenso debate. No total realizaram-se 18 encontros online com cerca de 20 participantes que permitiram à equipa educativa experimentar novos formatos, aprofundar metodologias participativas e abraçar com esperança novas realidades.

Entre outras iniciativas, o projeto “Entre Vizinhos” faz parte da aposta crescente do Serviço Educativo no sentido de tornar o Museu um espaço de diversidade, igualdade e inclusão.

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Exposição virtual «A Arte na Mudança» da Academia Sénior da Junta de Freguesia das Avenidas Novas

Como resultado do ciclo de aulas online e espaço de diálogo, a Academia Sénior das Avenidas Novas apresenta a exposição virtual «A Arte na Mudança» ─ uma coleção dos trabalhos artísticos dos alunos da disciplina de Relações Humanas, no âmbito do projeto “Entre Vizinhos”. 

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Atualização em 21 junho 2022

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