Gulbenkian Carbono Azul

Iniciativa que promove o investimento na conservação e no restauro dos ecossistemas de carbono azul em Portugal continental.

Carbono azul é o termo utilizado para designar o carbono capturado e armazenado pelos ecossistemas marinhos e costeiros. Estes ecossistemas, com grande capacidade de absorção e sequestro de carbono, são vitais para o combate às alterações climáticas. A sua proteção e o seu restauro constituem uma solução “baseada na natureza” de elevado potencial que beneficia o clima, a biodiversidade e os meios de subsistência das comunidades locais.

Gulbenkian Carbono Azul, uma iniciativa promovida pela Fundação Gulbenkian, em colaboração com a ANP|WWF e o Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve (CCMAR), visa promover o investimento nos ecossistemas de carbono azul em Portugal.

Entre 2022-2023, a iniciativa realizou um estudo inédito de mapeamento e a caraterização dos ecossistemas de carbono azul, em Portugal continental, com potencial de sequestro de carbono. Nesse estudo, foram identificados e caracterizados dez ecossistemas: a Ria de Aveiro, o Estuário do Mondego, a Lagoa de Óbidos, o Estuário do Tejo, o Estuário do Sado, o Estuário do Mira, a Ria de Alvor, o Estuário do Arade, a Ria Formosa e o Estuário do Guadiana.

Atualmente, a Fundação Gulbenkian está a investir num estudo no Estuário do Tejo, com o intuito de avaliar o potencial das intervenções de proteção e restauro de ecossistemas marinhos na captura de carbono e na proteção da biodiversidade. Pretende-se que este estudo identifique ainda benefícios complementares, tais como aqueles de que podem beneficiar as comunidades locais.

Resultados e principais conclusões

Na primeira fase da iniciativa foi possível concluir que:

  • Os ecossistemas de carbono azul, em Portugal continental, são constituídos por 86% de sapal e 14% de pradarias de ervas marinhas.
  • O stock total de carbono nos ecossistemas de carbono azul de Portugal continental é de 845 Gg, 87% do qual armazenado nas áreas de sapal (733 Gg) e 13% nas pradarias de ervas marinhas (113 Gg).
  • A Ria Formosa, a Ria de Aveiro e o Estuário do Tejo contêm 89% do stock de carbono dos sapais de Portugal continental. A Ria Formosa contém 75% do stock de carbono das ervas marinhas.
  • A taxa de sequestro de carbono dos ecossistemas de carbono azul de Portugal continental foi estimada em 3 717 Mg por ano. Sendo 79% do total (2 930 Mg ano-1) oriundo do sapal e 21% (787 Mg ano-1) das pradarias de ervas marinhas.
  • Estima-se que cerca de 33% dos ecossistemas de sapal e 10% dos ecossistemas de ervas marinhas se tenham perdido nas últimas décadas em Portugal. Segundo registos históricos ainda não quantificados, o valor da perda de ervas marinhas será muito superior.

Os resultados desta iniciativa ajudaram a influenciar as orientações do Mercado Voluntário de Carbono de Portugal, tendo os ecossistemas marinhos sido incorporados na legislação publicada em 2024.

Os resultados da iniciativa podem ainda beneficiar outras organizações que trabalham no domínio da conservação marinha, em Portugal e no estrangeiro.

Os dados e recomendações da primeira fase da iniciativa estão disponíveis (em inglês e português) nos seguintes relatórios:

  • Carbono Azul: Roteiro para um mercado voluntário em Portugal, que fornece orientações sobre o desenvolvimento e certificação de projetos de carbono azul, com destaque para as condições necessárias à criação do mercado em Portugal.
  • Um Relatório Científico, dividido em dois volumes, com informação detalhada e fichas técnicas sobre os ecossistemas de carbono azul em Portugal continental. Entre outras informações, apresenta uma estimativa dos reservatórios e das taxas de sequestro de carbono destes ecossistemas, bem como das lacunas existentes.

Carbono azul é o termo utilizado para designar o carbono capturado e armazenado pelos ecossistemas marinhos e costeiros, i.e., refere-se à quantidade de dióxido de carbono removido da atmosfera por estes ecossistemas que promove a redução do impacto dos gases de efeito de estufa (GEE) na atmosfera.

Em Portugal, os ecossistemas de carbono azul incluem sapais, pradarias de ervas marinhas e florestas de algas (em climas tropicais, consideram-se ainda os mangais).

As taxas de captação de carbono pelos ecossistemas marinhos são muito mais elevadas do que aquilo que é captado pelos ecossistemas terrestres. Trata-se, por isso, de uma solução de base natural para as alterações climáticas.

A capacidade de capturar e armazenar grandes quantidades de carbono por parte dos ecossistemas marinhos deve-se às taxas elevadas de fotossíntese (que absorve CO2 produzindo matéria orgânica) e à capacidade dos seus sedimentos fazerem uma decomposição da matéria orgânica muito lenta, limitando a produção e emissão de CO2 de volta para a atmosfera.

Além de ocuparem áreas muito menores do que as florestas terrestres e de sequestrarem a uma velocidade pelo menos oito vezes mais rápida, o carbono fica retido nos sedimentos por centenas (ou mesmo milhares) de anos, o que lhes confere um enorme potencial para mitigar as alterações climáticas.

Estes ecossistemas servem ainda de zona-tampão para os impactos das tempestades costeiras – diminuem o risco de inundações, contribuem para a qualidade da água e servem de suporte de biodiversidade, por exemplo – atuando assim como uma solução de elevado impacto para a adaptação às alterações climáticas.

Porém, as próprias alterações climáticas estão a afetar estes ecossistemas. Eventos climáticos extremos, a subida do nível do mar ou o aumento da temperatura podem danificar os sistemas, provocando a emissão de uma enorme quantidade de carbono retido de volta à atmosfera.

Parcerias

Responsável pela componente de advocacy do projeto e pela elaboração do roteiro

A WWF é uma das maiores e mais respeitadas organizações independentes de conservação do mundo, com mais de 5 milhões de apoiantes e uma rede global ativa em mais de 100 países. A missão da WWF é travar a degradação da natureza e construir um futuro no qual os seres humanos vivam em harmonia com a natureza, através conservação da diversidade biológica do mundo, garantindo que a utilização dos recursos naturais renováveis seja sustentável e promovendo a redução da poluição e do desperdício.

A ANP|WWF é uma ONG portuguesa que trabalha em Portugal em associação com a WWF, com vista a conservar a diversidade biológica e dos recursos nacionais, procurando um planeta em que as pessoas consigam viver em harmonia com a natureza.

Responsável pela componente científica do projeto e pela elaboração do relatório científico

O Centro de Ciências do Mar (CCMAR) é um dos principais centros de investigação em ciências marinhas em Portugal. Localizado no sul do país, o CCMAR é uma organização de investigação independente e sem fins lucrativos inserida no sistema da Universidade do Algarve. Dedicado à investigação e desenvolvimento em ciências marinhas, o CCMAR visa promover investigação multidisciplinar e formação relacionadas ao meio ambiente marinho, com ênfase nos processos de mudança ambiental que afetam os ecossistemas marinhos.

Com uma equipa multidisciplinar de cerca de 250 investigadores científicos, instalações e laboratórios bem equipados e acesso facilitado a importantes ecossistemas marinhos e costeiros, o CCMAR desenvolve atividades que se dividem em cinco áreas principais: Investigação, Formação, Indústria, Sociedade e Cooperação.

Embaixador do projeto

Carlos Duarte é Investigador e Diretor Executivo da Global Coral Reef R&D Platform e Professor da King Abdullah University of Science and Technology.

Na sequência do seu trabalho de investigação sobre a importância global que mangais, pradarias de ervas marinhas e sapais têm enquanto sumidouros de carbono, Carlos Duarte e a sua equipa desenvolveram o conceito de “carbono azul” como solução baseada na natureza para as alterações climáticas. Considerado, por isso, como o “pai” do conceito de “carbono azul”, Carlos Duarte realizou ainda investigação em todos os continentes e oceanos, do interior à costa e ao mar profundo, desde micróbios a baleias.

 

 

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