19 dez / delirar a cronologia
O que de «novo» há numa série de danças que atravessam o século XX português? De que formas se cruzam a história da dança e a história do século?
Esta sessão toma como ponto de referência a primeira e última salas da exposição – cujas obras e princípios organizadores examinará mais a fundo – para explicitar a própria pesquisa que informa o programa dança não dança.
Assim, discutindo trabalhos de Vera Mantero, Francisco Camacho, Almada Negreiros, Paula Massano, Dança Grupo, Madalena, Vitorino Fernando Lopes Graça ou do Ballet Gulbenkian, presentes nestas duas salas, abordam-se questões relacionadas com a experimentação em dança, a improvisação, a composição – e o corpo. É, afinal, a emergência inusitada do corpo nas obras dos jovens coreógrafos da Nova Dança Portuguesa Francisco Camacho e Vera Mantero que leva Alexandre Melo a perguntar-se os Portugueses teriam um corpo, dada a sua ausência nos discursos predominantes.
20 dez / liberdade de corpo e de espírito, individual e coletiva
A ideia de uma dança «livre» — isto é, da dança entendida como forma de expressar uma liberdade de espírito que se manifesta no e pelo corpo — atravessa o século XX.
Mas... o que pode ser uma formação em e para a liberdade? Uma liberdade individual e coletiva?
Nesta sessão, incidindo sobre a segunda e quarta galerias da exposição – cujas obras se examinarão mais a fundo –, colocam-se em relação figuras como Isadora Duncan, Josephine Baker, Ruth Aswin ou Valentim de Barros, e obras de Margarida Bettencourt, Joclécio Azevedo, Mónica Lapa, Vera Mantero, Ângela Guerreiro, Ana Borralho e João Galante, Miguel Bonneville ou Miguel Pereira. Desta forma, problematizam-se ideias individuais e coletivas de corpo e de liberdade, fazendo ressaltar os modos como a eventual apresentação do «eu» lhes traça contornos, mas também potencialidades.
02 jan / Il faut danser Portugal
Nesta sessão interrogam-se os termos «portugalidade» e «dança» como sonhados pelo poder e esboçados pelos artistas. Debruçando-se sobre as obras presentes na galeria de exposição com o mesmo mote, analisam-se obras de António Olaio, Sílvia Real, Vânia Gala, Francisco Camacho, António Tavares, Paulo Ribeiro ou Rui Nunes, colocando-as em diálogo com coreografias dos Bailados Portugueses Verde Gaio e do Círculo de Iniciação Coreográfica e com textos de Tomás Ribas, António Ferro, José Sasportes, José Blanc de Portugal ou Margarida de Abreu. Pode o contraste entre estes trabalhos perspetivar outras tantas danças que, autodenominando-se ou sendo por outros denominadas «portuguesas», dão corpo a uma cultura tão iconoclasta como situada e limitada?
Em 1984, António Olaio apresenta Il faut danser Portugal no âmbito do Festival de Performance Portuguesa, organizado por Egídio Álvaro no Centro Pompidou por ocasião do 10.º aniversário da revolução portuguesa. Em 1948, Francis coreografa Nazaré, uma das mais emblemáticas obras dos Bailados Portugueses Verde Gaio, de onde sairia definitivamente pouco depois, e uma das poucas de que há registo quase integral, adaptado para a câmara. De que forma a portugalidade parodiada por Olaio em 1984 corresponde à estilizada por Francis em 1948? Como contribuem ambos para um estudo da relação entre a produção coreográfica em Portugal no século XX e ideias de identidade nacional ou a sua crítica?
03 jan / Efeito Gulbenkian
Nesta sessão, visitando tanto a história do Ballet Gulbenkian e do ACARTE como o percurso da sua figura tutelar, Madalena de Azeredo Perdigão, discutindo momentos e peças-chave, aborda-se a ação que a Fundação Calouste Gulbenkian tem no panorama nacional da dança. Entre a criação do Grupo Gulbenkian de Bailado, em 1965 – mais tarde Ballet Gulbenkian –, e a sua extinção, em 2005, produziu-se em Portugal um número de peças incomparavelmente superior a qualquer período anterior, e o tempo de atividade do Serviço de Animação, Criação Artística e Educação pela Arte (ACARTE) da Fundação Calouste Gulbenkian corresponde a uma frenética atualização de repertório, pondo finalmente a produção coreográfica do país em sintonia com as tendências na área. Quer através do Ballet Gulbenkian, que protagonistas da Nova Dança Portuguesa integraram, quer com o ACARTE, que potenciou a rutura que operaram, o panorama da dança mudou radicalmente no país.
09 jan / Estes corpos que nos ocupam
Esta sessão interroga os modos muito distintos como um conjunto de trabalhos presentes na sexta galeria da exposição – de, entre outros, João Fiadeiro, Mário Calixto, Mikaella Dantas, Diana Niepce, Rita Marçalo, Luís Guerra, Tânia Carvalho, Clara Andermatt, Sofia Dias e Vitor Roriz, – têm vindo a propor outros entendimentos do corpo e, com ele, da relação corpo-mundo. Capaz de se tornar num outro corpo, longe de ideias canónicas da dança e do seu caráter prescritivo, assim como de técnicas para corpos «normativos» e virtuosos, o corpo sem órgãos da Nova Dança Portuguesa é feito de potências. É um corpo em devir, à procura de si mesmo na abertura à diferença, com contornos incertos e em afetação recíproca com o que a cada vez encontra. Pode tornar-se coisa — diluindo sujeito e objeto em relações outras — ou desejo — motor abstrato do qual emergem mundos. É um corpo generativo de imagens, problemas e conceitos, mas também de outros modos de habitar o mundo e, com isso, o teatro onde a dança e o público se encontram.
10 jan / «Quem não dança não sabe o que se passa»
Passando em revista as sessões anteriores, e incidindo em particular sobre a cronologia, nesta sessão interroga-se o presente por via de leituras várias do século. De que modos ressurgem hoje temas e problemas que encontramos nos anos 1910 e 1920, ou mesmo 1950? Qual a relação entre a Revolução de Abril de 1974 – que cumpletou 50 anos – e a Nova Dança Portuguesa? De que forma persistem ainda hoje anacronismos e tensões cristalizados pelos longos 48 anos de ditadura e repressão? E que movimentos, gestos e sons de liberdade é possível vislumbrar nestas danças? Como apreender pelas danças em exposição o tempo que é o seu e os muitos tempos disputados que nelas se encontram?