O Calígrafo Ocidental. Fernando Lemos e o Japão
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Data
- sáb,
- Encerra à Terça
Local
Espaço Engawa Centro de Arte Moderna GulbenkianPreço
- 8,00 € – 16,00 €
25% – Menores de 30
10% – Maiores de 65
Cartão Gulbenkian:
50% – Menores de 30
15% – Maiores de 65
A exposição é uma oportunidade única para conhecer um grande conjunto de fotografias e desenhos inéditos em Portugal do artista luso-brasileiro.
Muitas das fotografias são realizadas durante a passagem de Fernando Lemos (Lisboa, 1926- São Paulo, 2019) pelo Japão, onde chega pela primeira vez enquanto bolseiro da Fundação Gulbenkian para estudar caligrafia e arte japonesas, e são testemunho da influência seminal da cultura japonesa na sua prática artística.
A relação entre os desenhos e as fotografias expostos é sublinhada pelo diálogo com obras suas noutros suportes, com obras de outros artistas da coleção do CAM, e com estampas japonesas da coleção do Museu Gulbenkian.
Organizada em torno de seis núcleos distintos, a exposição convida quem a visita a olhar para o desenho como escrita e a encontrar a projeção da fantasia nos contornos da realidade, nos enquadramentos e recortes fotografados ou desenhados, e na relação com a paisagem humana e arquitetónica.
Neste projeto, o CAM é parceiro do Instituto Moreira Salles, de São Paulo, que imprimiu um conjunto de fotografias inéditas selecionadas pelas curadoras para esta exposição.
Temas
A vida é uma curva
Quanto mais desejo mais invento o que vejo
A vertigem é de baixo para cima
Não sei desenhar o meu endereço
Nem sempre nos conhecemos para sempre
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O desenho da palavra no ar
As passagens, aproximações e reciprocidades que a escrita e o desenho mostram ter entre si remontam à história da formação da escrita pictogramática e ideogramática e atravessam séculos e culturas diversas. No Japão, por exemplo, a escrita comum desenvolve-se no século V, a partir do contacto com a China e a Coreia e os registos literários, a partir do século VIII. Essa aproximação passapelos textos visuais barrocos e pela poesia concreta do século XX, para habitar a pintura gestual, abstrata ou concetual de diferentes momentos da modernidade. A palavra é um desenho e um desenho é uma linguagem. Neste núcleo, design, desenho, ilustração, pensamento, poema, caligrafia e pintura adquirem, no trabalho de Fernando Lemos, confluências rítmicas e visuais.
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A vida é uma curva
«O caos é um polo de criatividade» – dizia Fernando Lemos, obrigando-nos a preencher o caminho que vai do caos à ordem criada pelo artista. «Há nos meus trabalhos um sentido coletivo. É uma preocupação que tenho, não me interessa fazer uma coisa que não seja para o outro. É por isso que a gente sofre quando o outro não entende».
A vida é essa curva em que viajamos, a nossa história desenhada em permanência no espaço curvo e maleável duma sujeição oscilante à gravidade, às suas leis gerais e restritas e, quem sabe se, por vezes, à anulação do seu efeito!
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Quanto mais desejo mais invento o que vejo
A fotografia e o desenho são territórios privilegiados de expressão e projeção subjetivas, tanto mais quando estamos diante duma alma forjada na liberdade e na clarividência do surrealismo.
Num poema amplamente reproduzido, na íntegra ou parcialmente, Fernando Lemos joga com as palavras «desejo/invento/vejo» em todas as combinações possíveis e lembra-nos que cada imagem resulta dessas forças: as forças do inconsciente celebradas pelo surrealismo. «Acabei me rendendo à fotografia em parte por causa do ímpeto surrealista de acrescentar ao real o que lhe faltava».
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A vertigem é de baixo para cima
A síndrome vertiginosa sempre se definiu por uma perturbação sentida diante de um abismo ou num ponto alto face ao espaço que fica entre nós e o chão. Inverter o sentido deste eixo designando a vertigem que se pode sentir a olhar para cima, equivale a deslocar o foco de perturbação da queda, da Terra e da materialidade, para a elevação, para o céu e para a espiritualidade.
Os pontos de vista em picado e contrapicado (sequência de imagens de baixo para cima) abundam na fotografia de Fernando Lemos. A arquitetura, a natureza ou as pessoas revelam-se mais surpreendentes dessa forma.
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Não sei desenhar o meu endereço
O artista Fernando Lemos saiu de Lisboa em 1953, com 26 anos e naturalizou-se brasileiro em 1960. Como diz Vera d’Horta, «construiu sua identidade em um território afetivo, ambíguo, no qual se misturam a “pátria recusada” e o país de adoção».
Lemos afirmou: «tenho duas pátrias, uma que me fez e outra que ajudo a fazer». O seu endereço emocional era plural e a pertença, por vezes, difícil de desenhar. Portugal era berço, mas também prisão. O Brasil era novidade e libertação. O Japão foi revelação e aprendizagem. «Circulamos estonteados, na estrutura da expectativa, não sabemos onde começa uma esquina e acabam nossos endereços», escreveu o artista.
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Nem sempre nos conhecemos para sempre
Com as fotografias do Japão em que aparecem pessoas, Fernando Lemos deu a ver e a sentir a importância, mas também a relatividade dos laços, a efemeridade de muitos deles, a passagem pela vida como fluxo de memórias e esquecimento, a aceitação do papel de cada pessoa que preencheu a nossa vida como uma aprendizagem da emoção ou do sentimento, num xadrez complexo de interações. «Estou sempre pronto para me esquecer». E a verdade é que, para o artista, nem o futuro existe: «chega adiantado. Não vale a pena procurá-lo».
Publicações
Ficha técnica
Curadoria
Leonor Nazaré
Rosely Nakagawa
Projeto expositivo
Rita Albergaria
Imagem principal
© Pedro Pina
Mecenas Exposição
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