Nazaré (1948), do grupo de Bailados Portugueses Verde Gaio, tem coreografia e argumento de Francis Graça, música de Frederico de Freitas e cenário e figurinos de José Barbosa. Este bailado dá continuidade ao processo de estilização e estetização da portugalidade levado a cabo pelo Estado Novo a partir de 1935, num esforço de projetar interna e externamente a imagem moderna de um Portugal de gente simples, devota e trabalhadora. Nesta perspetiva, Nazaré conta, em forma de movimento, os amores e desamores de jovens pescadores e das suas companheiras, a que não são alheias a tragédia e a perda de vidas pela violência do mar.
“Na praia, preparam-se os utensílios da pesca. Homens e mulheres puxam um barco que chegou e as peixeiras vão-se aproximando inconfundíveis com as suas cinturas estreitas e as ancas movediças como a areia que pisam. Conduzindo redes e remos, passam pescadores, a quem o som dos búzios chama para a próxima campanha.”
— Excerto do argumento de Francis Graça para Nazaré
Inserida na programação do ciclo dança não dança, uma das mais emblemáticas obras do grupo de Bailados Portugueses Verde Gaio, coreografada por Francis Graça em 1948, é reinterpretada por alunos da Escola Superior de Dança, a partir de um registo videográfico quase integral, adaptado para a câmara.
No mesmo dia, é apresentada Il Faut Danser Portugal, uma criação de António Olaio (1984), reativada por Vânia Rovisco (no âmbito do seu projeto Reacting to Time – Portugueses na Performance) com os alunos da Escola Superior de Teatro e Cinema. A intercalar as duas sessões de Nazaré, realiza-se uma conversa com Vânia Rovisco, António Olaio e Cristina Graça (ESD) moderada por Paula Parente Pinto, onde se discutem algumas das questões suscitadas pela justaposição das duas (re)performances.
Imagem: Francis Graça e Ruth Walden em Nazaré, grupo de Bailados Portugueses Verde Gaio, 1948. Cortesia da Fundação António Quadros.
Cristina Graça é professora na Escola Superior de Dança desde 2003. Foi professora na Escola de Dança do Conservatório Nacional e nos Cursos de Dança da Companhia Nacional de Bailado. Colaborou com o Teatro A Comuna, como professora de dança e coreógrafa. Coreografou para a Companhia de Dança da Madeira e tem criado pequenas peças para estudantes da Escola Superior de Dança.
Francis Graça (1902 — 1980), foi bailarino e coreógrafo, renovador do teatro de revista dos anos 1930 em Lisboa e coreógrafo principal dos Bailados Portugueses Verde-Gaio na sua fase inicial, entre 1940 e 1950.
dança não dança
Este evento insere-se no ciclo de (re)performances, filmes e conversas que constitui o primeiro eixo do programa dança não dança – arqueologias da Nova Dança em Portugal. Saber mais