Porque é que as borboletas noturnas são atraídas pelas luzes artificiais?
Um naturalista no Jardim Gulbenkian
Atualmente estão inventariadas cerca de 2.600 espécies de borboletas noturnas em Portugal – como a borboleta-grande-pavão-noturno (Saturnia pyri) e a borboleta-esfinge-das-tílias (Mimas tiliae) -, um número esmagador quando comparado com as 135 espécies de borboletas diurnas.
Mas só algumas borboletas noturnas voam de noite e nem todas as que voam de noite são atraídas pelas luzes artificiais. Então, o que está por detrás do comportamento de algumas mariposas?
“Ainda não há nenhuma teoria oficialmente aceite”, explica Sónia Ferreira, entomóloga e investigadora do CIBIO-InBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos).
No entanto, a especialista refere que há algumas teorias que, ao longo dos anos, têm sido defendidas por vários peritos.
Uma dessas teorias diz que tudo se resume a uma questão de “orientação destes insetos pela luz da Lua”. De acordo com esta ideia, as borboletas noturnas usam a luz brilhante e distante da Lua como um farol de navegação, voando sempre transversalmente a essa luz. Mas como a luz da Lua está mais distante, as borboletas voam na direção das luzes artificiais, o que, frequentemente, significa o seu fim.
Sónia Ferreira refere ainda outra teoria a de que “as borboletas ficam demasiado estimuladas pela luz artificial e perdem o controlo, voando à volta de candeeiros, por exemplo”.
Mas ninguém sabe ao certo. Até pode ser que cada teoria seja verdadeira para borboletas diferentes. Afinal de contas, há cerca de 160.000 espécies conhecidas em todo o mundo com comportamentos diferentes.
Outra pergunta impõe-se. Quais os impactos da poluição luminosa sobre estes insetos? Segundo a entomóloga, “muita luz pode alterar os hábitos das espécies, mas ainda não há dados que o provem”.
A investigadora acredita que a poluição luminosa “pode aumentar drasticamente a mortalidade de insetos nos candeeiros de rua”. E há aqueles que estão atentos e tiram proveito da situação: os morcegos, que “não hesitam em tirar partido deste ponto de atração. É comum vermos morcegos entretidos a caçar borboletas noturnas à volta dos candeeiros.”
Um naturalista no Jardim Gulbenkian
Uma vez por mês, ao longo de um ano, a revista Wilder revelou algo a não perder no Jardim Gulbenkian e lançou-lhe um desafio: descobrir e fotografar ou desenhar cada descoberta. No ano seguinte, a partir da biodiversidade do jardim, e com a ajuda de especialistas, respondemos a vários “como e porquê” de aves, insetos, mamíferos, anfíbios e plantas.