O complexo arquitetónico do Instituto Gulbenkian de Ciência
Para a génese do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) contribuiu de forma inequívoca o Centro de Estudos de Economia Agrária (1957-1986) que foi, à época, a primeira unidade de investigação científica da Fundação e a única entidade portuguesa especializada em estudos de economia agrária.
A “falta de um organismo dedicado ao estudo e investigação dos problemas económicos da agricultura portuguesa, (…) dirigido e mantido por uma instituição privada que, entre os seus fins estatutários, tem o de fomentar todas as formas de atividade científica” foi, nas palavras de José de Azeredo Perdigão, a justificação para a sua criação. Iniciou funções em fevereiro de 1958, ainda no Parque de Santa Gertrudes, à Avenida de Berna, em Lisboa.
A criação de um “Instituto de Investigação Científica Gulbenkian” só viria a acontecer 3 anos depois, a 19 de julho de 1961, com base em proposta apresentada pelo Serviço de Ciência da Fundação Calouste Gulbenkian, através do seu Conselho Consultivo.
Esta entidade viria a reunir as atividades de vários centros de investigação: o Centro de Cálculo Científico (1962-1985), o já existente Centro de Estudos de Economia Agrária, o Centro de Estudos Biológicos – Centro de Biologia (1962-) – que corresponde ao que é hoje o Instituto Gulbenkian de Ciência, o Centro de Investigação Pedagógica (1962-1980) e o Centro de Estudos de Economia e Finanças (1964-1971).
À falta de um edifício próprio, os diversos centros foram inicialmente instalados em vários prédios arrendados em Lisboa. A ideia de os reunir num mesmo espaço afirmava-se como uma prioridade e os terrenos anexos ao Palácio do Marquês de Pombal, em Oeiras — comprado pela Fundação, em 1958, para guardar a coleção de arte do Fundador — foram o espaço eleito para os acolher.
A área de terreno disponível revelou-se, porém, insuficiente para o complexo de edifícios a construir, obrigando à compra e permuta de alguns lotes de terreno na zona limítrofe da propriedade, com vista a facilitar os acessos às futuras edificações do Instituto Gulbenkian de Ciência.
A área de implantação inicial abrangia, assim, 3 zonas: os terrenos da margem esquerda da Ribeira da Laje, os terrenos do limite sul da Quinta, logradouro e lotes situados junto das ruas Desembargador Faria e Caminho das Quintas e Lagares e os terrenos da margem direita da Ribeira da Laje.
O projeto de arquitetura das novas edificações do futuro complexo arquitetónico do Instituto Gulbenkian de Ciência foi da autoria dos arquitetos Jorge Fernando Sotto-Mayor d’Almeida e Manuel Roquette de Mello Campello, do Serviço de Projetos e Obras. João d’Arga e Lima e José Marecos foram os engenheiros responsáveis pelo projeto das estruturas dos edifícios. O projeto de arquitetura paisagista foi concebido pelo arquiteto Gonçalo Ribeiro Telles.
O plano geral do complexo foi aprovado “com verdadeiro entusiasmo” pela Câmara Municipal de Oeiras, em fevereiro de 1964, e as obras iniciaram-se em setembro, com a urbanização da margem direita da Ribeira da Laje e a construção das estruturas do primeiro edifício do Instituto Gulbenkian de Ciência, o Centro de Estudos Biológicos.
No princípio de 1966 estavam prontos a funcionar os quatro laboratórios que constituíam o Centro e decorriam as obras de construção do Biotério. Apesar do complexo arquitetónico ter sido oficialmente inaugurado a 20 de julho de 1967, ainda se seguiu a construção do edifício do Centro de Cálculo Científico, que teve início em 1969, terminando em 1971. O Centro de Estudos de Economia Agrária passou a ocupar parte destas instalações, em 1972, bem como o Serviço de Ciência, transferido para aqui temporariamente, regressando depois ao edifício sede da Fundação.
Apenas dois centros de estudos, que organicamente pertenciam ao Instituto Gulbenkian de Ciência, nunca ocuparam o novo conjunto arquitetónico. O Centro de Investigação Pedagógica, que passou — aquando da transferência do Museu para o edifício Sede — do número 56 da Avenida de Berna para o 1.º andar do Palácio do Marquês de Pombal, que, para tal, teve de sofrer obras de adaptação; e o Centro de Estudos de Economia e Finanças, que funcionou no número 56 da Avenida de Berna até à sua extinção em 1971.
O Instituto Gulbenkian de Ciência foi sofrendo várias reestruturações orgânicas ao longo das seis décadas da sua existência. No virar do milénio, tornou-se um centro de investigação reconhecido internacionalmente, dedicando-se à investigação biológica e biomédica, à formação pós-graduada inovadora e à transformação da sociedade através da ciência.
Durante o ano de 2024, na sequência de um processo de fusão com o Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes, este espaço passará a constituir o polo de Oeiras do novo centro de investigação — GIMM Gulbenkian Institute for Molecular Medicine — onde se manterá até à conclusão das obras de construção de uma nova casa para o GIMM.
Dos Arquivos
Momentos relevantes na história de Calouste Gulbenkian e da Fundação Gulbenkian em Portugal e no resto do mundo.