O 25 de Abril numa obra da Coleção do CAM escolhida pela atriz Isabel Ruth

Nos 50 anos da Revolução do 25 de Abril, propusemos a diferentes gerações que escolhessem uma obra da Coleção do CAM e a relacionassem com este momento decisivo da nossa história recente.
Isabel Ruth 24 mai 2024 3 min

A atriz Isabel Ruth, presença-chave do Cinema Novo Português e para sempre indissociável desse movimento, também ele revolucionário, escolheu a obra A Poesia está na Rua, de Maria Helena Vieira da Silva.

Partilhamos aqui as suas palavras:

Não podia ter acontecido senão em abril, o mês das chuvas, dizem? Aprilis em latim significa abrir, em referência à germinação das culturas, ou Aprus, nome etrusco de Vénus, deusa do amor e da paixão. Dizem também que os amores nascidos em abril são para sempre (não há nada como pesquisar na net…). Mas abril é também Primavera, fragrâncias de jasmim, árvores a espreguiçar os ramos, carregadinhos de rebentos… abril é também a minha cama, o meu primeiro trambolhão do espaço, do Cosmos, do ventre de minha mãe, a minha chegada a este mundo, o meu bilhete de identidade, o cartão de cidadão. 

O abril de há 50 anos, não é o mesmo abril dos anos de 1950. Nessa época eu era mais livre do que nunca, era a infância. Liberdade era para mim o sabor das amêndoas da Páscoa, as caixinhas preciosas de madeira com ornamentos de prata forradas de cetim, onde eram guardadas como um tesouro… brancas, azuis, cor-de-rosa, finas, espalmadas, perfumadas e outras de licor em forma de bebés com touquinhas. Esse era o meu mês de abril, a minha evolução… a coragem de encher os pulmões e apagar as velas no meu aniversário. A certeza de ter nascido, de estar viva, a liberdade de poder ser eu, a alegria, os festejos de amor daqueles que se amam e protegem, o meu casulo. Nesse abril de há 80 anos os cravos eram perfumados…

25 de Abril de 2024. O tempo hoje é diferente, o calor está mais quente e o frio mais frio. Ou serei eu que confundo as estações e estou mais indiferente às diferenças e ao que vai no coração das gentes?! Não há dúvida que os cravos vermelhos nos canos das espingardas são o exemplo mais amável, mais pacífico de uma revolução. Que ideia genial! Eu no meu cantinho, no anonimato, fui forjando essa revolta, essa reviravolta! Havia essa necessidade, era uma urgência. Há quem diga que quando pensas num desejo com muita convicção, esse desejo cumpre-se. Eu acredito, eu creio. 

Se eu pintasse um quadro…
Se eu fizesse uma canção…
Se eu fizesse um filme…
Se eu escrevesse um livro sobre o 25 de Abril… Ai! Se eu fizesse…

Fim

 

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