Medalha de Honra das Epidemias

A Biblioteca de Arte e Arquivos evoca a “Medalha de Honra das Epidemias” outorgada pelo Estado francês a Calouste Gulbenkian em 1919.
25 jan 2024 4 min
Dos Arquivos

Durante a primeira Grande Guerra, em França, surgiram vários hospitais financiados por organizações filantrópicas dos países aliados — Canadá, Austrália, Estados Unidos, Espanha, Dinamarca, Escócia, Rússia e Holanda — com o objetivo de acolher e tratar os feridos de guerra.

O hospital holandês, inicialmente financiado por uma associação de organizações holandesas e depois exclusivamente por Henri Deterding, presidente do grupo Royal Dutch Shell, estabeleceu-se no Bois de Bologne, nas instalações daquele que foi — e é ainda hoje — um dos grandes restaurantes de luxo da capital francesa, o Pré Catelan.

Calouste Sarkis Gulbenkian, acionista e administrador de várias empresas do grupo Royal Dutch Shell, e amigo do seu presidente, assume-se então como seu representante e administrador do Hôpital Hollandais du Pré Catelan.

Para acolher 200 camas, o antigo restaurante teve de sofrer várias intervenções de adaptação e recebeu avultados contributos financeiros para a compra de material e pagamento de salários da equipa hospitalar. Disto nos dão conta as relações de despesas mensais enviadas para Calouste, conservadas nos arquivos do Fundador.

Para além dos feridos de guerra, o hospital improvisado acolheu também vítimas da pneumónica — “grippe” —, epidemia que na altura afligia a Europa e que infetou cerca de 500 milhões de pessoas em todo o mundo.

 

Terá sido na sequência dos apoios prestados ao Serviço de Saúde francês que o ministério da Guerra outorgou a Calouste uma medalha de honra, em vermeil, por “boas ações”.

Esta medalha, também conhecida como “Médaille d’Honneur des Épidémies”, recompensava aqueles que se tinham particularmente distinguido em períodos de doenças epidémicas. Os titulares recebiam um diploma oficial recordando as causas da distinção.

As medalhas tinham quatro escalões atribuídos em função da qualidade dos serviços prestados: bronze; prata; vermeil e ouro. As medalhas de vermeil e ouro só poderiam ser atribuídas aos titulares das medalhas de bronze ou prata ou àqueles que pertencessem à Légion d’honneur. Curiosamente, esta distinção, oferecida a Gulbenkian pelo governo francês, havia sido por ele rejeitada, propondo que, em seu lugar, fosse oferecida ao seu filho Nubar.

No diploma que acompanhava a medalha atribuída a Calouste, que até este momento não foi possível localizar, pode ler-se:

“Em nome do Presidente da República o Ministro da Guerra atribuiu uma Medalha de honra em Vermeil ao Senhor Gulbenkian, administrador do hospital neerlandês o Pré Catelan pela prestação do mais devotado auxílio ao Serviço de Saúde francês.

O Senhor Gulbenkian está autorizado a trazer esta medalha na lapela suspensa por uma fita tricolor.

Este diploma foi-lhe atribuído a fim de perpetuar junto da sua família e dos seus concidadãos a memória da sua honrosa e corajosa conduta.”

Por sinal, a “médaille des épidémies” parece ter sido a única condecoração desejada por Calouste, como nos revelou a sua colaboradora e biógrafa Marcelle Chanet: “Quanto a C. S. Gulbenkian, julgando que o seu único mérito tinha sido enfrentar epidemias — o seu mais formidável inimigo — durante as suas atividades de guerra que se estenderam também à administração do hospital holandês Pré Catelan, não quis aceitar para ele de França nenhuma outra condecoração que não fosse a Medalha das Epidemias. Esta, em vermeil, foi-lhe atribuída em 1919.”

Série

Dos Arquivos

Momentos relevantes na história de Calouste Gulbenkian e da Fundação Gulbenkian em Portugal e no resto do mundo.

Explorar a série

Definição de Cookies

Definição de Cookies

Este website usa cookies para melhorar a sua experiência de navegação, a segurança e o desempenho do website. Podendo também utilizar cookies para partilha de informação em redes sociais e para apresentar mensagens e anúncios publicitários, à medida dos seus interesses, tanto na nossa página como noutras.