Maria Gabriel

A artista reflete sobre a influência da emigração da sua família e de pessoas próximas na sua obra ao longo dos anos.
Maria Gabriel 20 abr 2020 2 min
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O tema da serigrafia datada de 1978 – da série «Os Migrantes» – foi já abordado noutras gravuras de épocas diferentes: 1975/1976/1977/1978, entre outras. Reflete a emoção sentida pela saída por emigração para o estrangeiro da minha família próxima, de colegas e amigos. Esses acontecimentos, devido às grandes dificuldades económicas, sujeitaram muita gente a procurar trabalho fora do país. Não é fácil assistir ao desmantelamento de famílias e aceitar ficar só. Assim foi o que aconteceu, já que eu tinha iniciado um caminho que me permitia concretizar a vocação que se manifestara desde criança.

 

Maria Gabriel, da serie «Os Migrantes», 1978. Inv. 19GP2833

 

Os anos de 1960 foram caracterizados pela saída de muita gente para África, mas também para Inglaterra, para França e para a Holanda. Em 1965 fui a Londres e pela primeira vez andei de avião. Em 1967 inscrevi-me no curso de gravura artística na Cooperativa Gravura, do qual tomei conhecimento através do pequenino anúncio do jornal. Não sabia, nessa altura, da existência da Cooperativa. Aí encontrei como professores a pintora Alice Jorge e o pintor e gravador João Hogan. A ambos devo o conhecimento e também a amizade que daí para a frente nos uniu. Pedi então uma pequena bolsa à Fundação Calouste Gulbenkian.

 

Maria Gabriel, «A Caminheira», 1976. Inv. 19GP2818
Maria Gabriel, «O amor e os mitos», 1976. Inv. 19GP2819

 

A gravura A Caminheira, datada de 1968, elaborada pela técnica do buril, já anunciava que eu iria ter um futuro de idas e vindas. Estagiei em Hamburgo em 1974, na Hochschule Für Bildende Kunst, e foi nessa altura que se deu o 25 de Abril. Voltei a Portugal, regressei dias depois para Hamburgo e daí para a frente foi sempre assim: ir e voltar. O tema da figura que se desloca, a que eu chamei de «Caminheira», foi-se desenvolvendo em várias épocas.

Entre as obras da Coleção Moderna doadas em 2019, encontramos: A Caminheira, de 1968; O Amor e os Mitos, de 1976; Amor Carregado de Nuvens, de 1976; e a serigrafia de 1978 da série «Os Migrantes».

Noutras gravuras a figura aparece muitas vezes diluída.

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Nesta rubrica, artistas, curadores, historiadores e investigadores convidados refletem sobre a Coleção do CAM, explorando diferentes perspetivas e criando relações por vezes inesperadas. Partindo de uma obra, de um artista ou de uma temática específica, estes textos propõem novas formas de ver e pensar a Coleção à luz do contexto histórico atual.

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