Maria Gabriel
O tema da serigrafia datada de 1978 – da série «Os Migrantes» – foi já abordado noutras gravuras de épocas diferentes: 1975/1976/1977/1978, entre outras. Reflete a emoção sentida pela saída por emigração para o estrangeiro da minha família próxima, de colegas e amigos. Esses acontecimentos, devido às grandes dificuldades económicas, sujeitaram muita gente a procurar trabalho fora do país. Não é fácil assistir ao desmantelamento de famílias e aceitar ficar só. Assim foi o que aconteceu, já que eu tinha iniciado um caminho que me permitia concretizar a vocação que se manifestara desde criança.
Os anos de 1960 foram caracterizados pela saída de muita gente para África, mas também para Inglaterra, para França e para a Holanda. Em 1965 fui a Londres e pela primeira vez andei de avião. Em 1967 inscrevi-me no curso de gravura artística na Cooperativa Gravura, do qual tomei conhecimento através do pequenino anúncio do jornal. Não sabia, nessa altura, da existência da Cooperativa. Aí encontrei como professores a pintora Alice Jorge e o pintor e gravador João Hogan. A ambos devo o conhecimento e também a amizade que daí para a frente nos uniu. Pedi então uma pequena bolsa à Fundação Calouste Gulbenkian.
A gravura A Caminheira, datada de 1968, elaborada pela técnica do buril, já anunciava que eu iria ter um futuro de idas e vindas. Estagiei em Hamburgo em 1974, na Hochschule Für Bildende Kunst, e foi nessa altura que se deu o 25 de Abril. Voltei a Portugal, regressei dias depois para Hamburgo e daí para a frente foi sempre assim: ir e voltar. O tema da figura que se desloca, a que eu chamei de «Caminheira», foi-se desenvolvendo em várias épocas.
Entre as obras da Coleção Moderna doadas em 2019, encontramos: A Caminheira, de 1968; O Amor e os Mitos, de 1976; Amor Carregado de Nuvens, de 1976; e a serigrafia de 1978 da série «Os Migrantes».
Noutras gravuras a figura aparece muitas vezes diluída.