Marcus Faustini

“Sem participação cultural não há reconhecimento de identidades e alteridades, centrais para a democracia”

Marcus Faustini fundou a Agência de Redes para Juventude há 13 anos, nas favelas do Rio de Janeiro, Brasil. O seu trabalho tem inspirado iniciativas noutros países, incluindo em Portugal.
09 out 2024 3 min

Marcus Faustini é encenador, cineasta e mediador cultural brasileiro. Autor da metodologia da Agência de Redes para Juventude, trabalha desde 2011 para transformar ideias de jovens das favelas cariocas em projetos culturais para a comunidade.

No âmbito da conferência Atos para a Democracia Cultural, teremos oportunidade de aprofundar algumas das ideias que lança nesta breve entrevista.

Como surgiu e em que consiste a metodologia da Agência de Redes para Juventude?

A Agência de Redes para Juventude é uma metodologia artística que aposta na formação de jovens de favelas e periferias como líderes de ações sócio-culturais para impactarem seus territórios. Durante os últimos 13 anos a metodologia apoiou centenas iniciativas em diversas favelas do Rio de Janeiro que foram criadas pelos jovens que passaram pelos processos formativos.

Hoje, dezenas deles se tornaram lideranças reconhecidas da cidade e do Brasil em diversas áreas da sociedade. Nos últimos dez anos a metodologia foi implementada em diversas cidades da Inglaterra e tem apoiado por lá também a formação de jovens líderes a partir da cultura. 

Olhando para os últimos 13 anos, quais os maiores desafios do trabalho com projetos liderados por jovens de periferias do Rio? E as melhores conquistas?

A maior conquista é ver jovens que passaram por nossa metodologia se tornarem lideranças sociais. Os desafios continuam sendo a luta por garantia de direitos para a juventude pobre e urbana, diante dos desafios sociais do nosso país. 

Qual o impacto do território nestes projetos? Existe uma grande diferença para os projetos conduzidos em Inglaterra?

O impacto territorial existe, pois esses jovens conhecem melhor o território e a linguagem da juventude. Ao longo dos anos fizemos diversas pesquisas mostrando e medindo o impacto da metodologia. A Universidade de Stanford (EUA) foi uma das avaliadoras desses impactos.

E existem muitas semelhanças entre os jovens pobres urbanos do Rio e Londres, por exemplos. Duas são marcantes: esses jovens são criativos mas a estrutura da sociedade ainda persiste com a ideia de colocá-los no lugar de perigosos ou carentes. 

E em Portugal, que diferença poderá fazer este tipo de iniciativas?

A cultura e a arte são ambientes cheios de possibilidades para esses jovens criarem redes de apoio para suas ideias e projetos. Estamos felizes em colaborar com o projeto JAM! Jovens + Artes = Mudança [uma iniciativa da Artemrede para incentivar jovens dos 18 aos 25 anos a pensar e desenvolver projetos criativos que possam ter impacto nos seus territórios].

De que forma é que a participação cultural contribui para a democracia?

A participação cultural melhora as práticas culturais e as instituições artísticas também. Sem participação cultural não há o desejo de reconhecimento de identidades e alteridades, dois eixos centrais para a democracia. 

Na sua oficina (que vai dirigir no dia 19 de outubro, na Gulbenkian) lança a pergunta “O que a mediação cultural tem de diferente para impulsionar ações culturais participativas?”. A que respostas poderemos chegar?

A mediação cultural é um conjunto de práticas onde o eixo central é impulsionar as pessoas a criarem e agirem juntos na vida a partir da arte e da cultura. O centro não está na obra de arte ou na manifestação cultural apenas, mas sim em como as pessoas podem fazer algo através da arte e da cultura. É isso que vamos trabalhar na oficina.

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