Josimar Cassamá
“O essencial é gostar daquilo que fazemos”
Natural de Braga, Josimar Pacheco Cassamá está no quarto ano da Escola de Medicina da Universidade do Minho e concilia a vocação para a medicina – que diz ter partido da vontade, desde pequeno, de “fazer algo para os outros” – com o gosto pelo basquetebol no Sporting Clube de Braga, onde é federado.
Um exemplo de organização e resiliência, Josimar dedica-se aos seus muitos projetos com alma e pragmatismo, numa sede de saber e aprender mais que identifica também nos seus colegas da Rede de Bolseiros Gulbenkian. Fique a conhecer a sua história.
Está no quarto ano de medicina. Porque é que escolheu esse curso?
Sempre gostei muito da área da saúde e da ciência e desde pequeno que soube que queria fazer algo para os outros. Sempre gostei de ajudar, de dar o meu melhor à outra pessoa e, por isso, na altura das candidaturas senti que era o percurso para mim.
E está a gostar da experiência?
Estou a adorar. Cada vez fico mais feliz por ter feito a escolha que fiz. É um bocado chato no início porque pensamos “quando é que vou aplicar isto?”, “quando é que vamos ser mesmo médicos?”, “quando é que vamos ajudar as pessoas?”… É a partir do terceiro/quarto ano, quando começamos a ir ao hospital e a falar com pacientes, que sabemos que o nosso esforço compensa. Compensa por ajudar os outros, por tentarmos fazer o máximo que podemos. Sinto que se vai tornando cada vez mais gratificante.
Além do curso de medicina, que é exigente, também joga basquete. O que surgiu primeiro, o basquete ou a medicina?
Sinceramente, não sei muito bem. Como eu comecei mais novo a jogar basquete, se calhar digo que o basquete apareceu primeiro. Até porque da medicina eu tinha uma ideia de que gostava – aquela ideia de criança de “quero ser médico”-, mas só mais tarde o idealizei como um futuro.
Como é que concilia as duas coisas?
Acima de tudo, antes de falar da organização e métodos, acho que é preciso gostar das duas coisas. Quem fala de basquete e medicina fala de outras coisas. O essencial para nos dedicarmos e fazermos esforços por algo, mesmo que implique não estar tanto com os amigos ou não descansar tanto como queríamos, é gostar daquilo que fazemos.
Acho que tudo parte daí. Exige método, organização e muitas vezes abdicar de certas coisas, mas o que se ganha é tão bom que compensa o que deixamos para trás.
O que é que fica a ganhar com o basquete?
O basquete ajuda-me muito a organizar. Pensar que tenho um jogo no fim-de-semana, em Coimbra, no Porto, ajuda-me a definir objetivos e metas de estudo.
Também me ajuda bastante na componente social porque há períodos do ano que me obrigam a estudar muito e, por isso, às vezes é difícil falar com pessoas ou sair de casa. Saber que tenho treino no final do dia, além de ser uma coisa de que gosto muito, é um alívio e é relaxante. Ajuda-me a concentrar e ganhar forças para depois estudar e vice-versa. É uma altura do dia que eu aproveito para simplesmente fazer o que gosto.
Será possível manter as duas coisas no futuro ou eventualmente vai ser preciso escolher?
Já pensei um bocadinho sobre isso, sobretudo pensando no sexto ano, que exige muito estudo por causa da Prova Nacional de Acesso. Tento não pensar tanto no que posso fazer no futuro, mas sim no que posso fazer agora.
Há certos momentos em que se calhar não posso ir a um treino porque tenho de estudar. Outros em que tenho jogo e não consigo estudar tanto. Se agora o consigo fazer, tudo bem. Mais tarde, se tiver de escolher vou ter de escolher; até lá não adianta pensar nisso. Mas é uma pergunta que fica sempre a pairar na cabeça.
Entretanto, também está envolvido num projeto de sustentabilidade.
Sentia que me faltava um bocado de ligação à faculdade, porque a Faculdade de Medicina de Braga é numa área diferente das outras e por isso muitas vezes nem nos cruzamos. Fui sempre muito interessado pela sustentabilidade, é uma área que me interessa bastante.
Então, em conjunto com um amigo de Direito e com uma amiga de Engenharia Têxtil, decidimos criar este projeto, que se chama “Society Loving The Planet Minho”. Não numa perspetiva ativista e dramática, mas simplesmente para pequenas dicas de coisas que podemos fazer, pequenas chamadas de atenção.
Reparamos que era algo que faltava, algo voltado para a sustentabilidade. A questão das marcas, do “marketing verde”, de uma pessoa querer comprar algo porque faz melhor ao ambiente, de não querer usar sacos de plástico, querer reutilizar porque até acaba por gastar menos dinheiro… Basicamente queríamos introduzir esse conceito através de dicas e práticas para o estudante universitário.
Tem corrido bem?
O projeto foi criado em quarentena, em março do ano passado, e ainda não tivemos a oportunidade de fazer algo presencial, por isso muito do feedback que temos é através das redes sociais, mas está a correr bem.
Há pouco tempo fizemos uma conversa online sobre como é que a poluição afetou os nossos cinco sentidos, e temos tido um feedback bastante positivo. Acho que é um projeto que realmente tem espaço para crescer. O nosso objetivo é chegar a mais alunos e conseguir cada vez mais ações de sustentabilidade. Envolver câmaras municipais, empresas locais… Acho que vai tomar outra dimensão.
Qual diria que foi para si o impacto da bolsa Gulbenkian?
Seria hipócrita se não falasse da questão monetária. Ajudou-me a comprar material e a conseguir assinaturas online de plataformas de medicina; muitos dos livros são caros, muitas plataformas online são pagas. E também me ajuda nas deslocações, porque dependendo da especialidade em que estou posso ter de ir ao Hospital de Braga, ao Hospital de Viana do Castelo ou ao Hospital de Guimarães.
Ajudou-me também a conhecer uma rede de pessoas maior, pessoas curiosas como eu. Sinto que todas as pessoas com quem contactei na Gulbenkian têm o mesmo espírito de curiosidade, de insatisfação em relação ao que sabem, no sentido em que querem sempre saber mais, ler mais, estudar mais, falar mais. Permitiu-me ter contacto com outras realidades, outras pessoas. O workshop de Mindfulness também foi muito enriquecedor. Ajuda não só a evoluir como aluno, mas acima de tudo como pessoa.
Onde é que se vê daqui a cinco ou 10 anos?
Bem, daqui a 10 anos vejo-me na especialidade de que gosto, idealmente. Sempre gostei de gastroenterologia, neurologia, psiquiatria… São mais áreas de contacto, de consulta, do que as áreas de cirurgia, anatomia patológica ou saúde publica.
Uma área em que gostava de estar envolvido no futuro era na docência ou na investigação. Sou uma pessoa com vários interesses e que gosta de fazer várias coisas, então sinto que ser só médico pode ser limitante para mim. Gostava de ajudar pessoas, de me envolver em algo de cariz social, nem que fosse uma organização sem fins lucrativos local, alguma coisa ligada à Câmara Municipal.
Acho que muito do que dá gosto na vida é na base do dar e receber. E eu já recebi tanto que, se tiver oportunidade, gostava também de dar aos outros. Se der para trabalhar em associação com a Gulbenkian, ótimo, nem que seja a dar o meu testemunho. Se conseguir jogar basquete – com 32 anos já vou estar um bocadinho velho, mas se der para jogar – perfeito. Com uma família mais tarde, quem sabe (risos).
Histórias de Bolseiros
Desde 1955, a Fundação Gulbenkian apoiou mais de 30 mil pessoas de todas as áreas do saber, em Portugal e em mais de 100 países. Conheça as suas histórias.