Jorge Pinheiro

Um dos artistas portugueses mais relevantes do século XX, a sua produção plástica divide-se entre a figuração e a abstração geométrica. Podemos encontrar referências explícitas à matemática na sua obra, particularmente à «Sequência de Fibonacci».
Simão Palmeirim 31 mar 2020 2 min
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Fibonacci é o nome por que é conhecido Leonardo de Pisa, um dos mais importantes matemáticos da Idade Média (c.1170-c.1250). Em 1202 publicou o seu livro de cálculo, Liber Abaci, onde apresentou ao contexto europeu uma série de números em que cada um é a soma dos dois anteriores (1, 2, 3, 5, 8, 13…). Embora esta sequência já fosse conhecida anteriormente na Índia, ainda hoje nos referimos a ela como «série de Fibonacci».

Podemos encontrar diferentes aplicações desta sequência em obras de Jorge Pinheiro, muitas vezes transformada em jogo visual ou na aplicação lúdica dos números dentro de regras geométricas que o autor define. Adágio para Albinoni ou Ulisses e as Sereias (obras de 1981 da Coleção Gulbenkian) são disso exemplos. Em alguns casos a série é facilmente identificável; outras vezes é aplicada em grelhas, criando padrões, definindo o desenvolvimento de espirais ou mesmo como base para a composição de obras figurativas.

«Há uma matriz que informa as duas [obras figurativas e abstratas] e disso parece não haver dúvidas. Chamemos-lhe composição, chamemos-lhe organização estrutural, chamemos-lhe o que quisermos. Isso serve-nos para uma e para outra.»[1]

 

Jorge Pinheiro, «Grazie Mille Fibonacci», 1979/2010. Inv. 19E1909
Jorge Pinheiro, «Grazie Mille Fibonacci», 1979/2010. Inv. 19E1909

 

Em Grazie Mille Fibonacci, é notório que o espaçamento entre as barras de ferro horizontais vai aumentando progressivamente de baixo para cima, fazendo com que os ângulos entre os planos de alumínio espelhado também aumentem. O ritmo criado com o desdobramento destes elementos no espaço obedece precisamente aos números inscritos pelo matemático a quem o artista agradece no título.


[1] Jorge Pinheiro em entrevista a Pedro Cabrita Reis in Jorge Pinheiro – D’après Fibonacci e as coisas lá fora, Serralves/Documenta, 2017, p.132.  

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Nesta rubrica, artistas, curadores, historiadores e investigadores convidados refletem sobre a Coleção do CAM, explorando diferentes perspetivas e criando relações por vezes inesperadas. Partindo de uma obra, de um artista ou de uma temática específica, estes textos propõem novas formas de ver e pensar a Coleção à luz do contexto histórico atual.

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