Como é que os morcegos caçam de noite?

Um naturalista no Jardim Gulbenkian

À medida que escurece e a noite avança, vemos por vezes pequenas sombras esvoaçantes junto dos candeeiros de rua acesos. São os morcegos, que por esta hora saem dos abrigos para caçar insetos e aproveitam para apanhar mosquitos e borboletas, atraídos pelas luzes artificiais. 
Wilder 25 set 2019 2 min
Um naturalista no Jardim Gulbenkian

Mas como é que estes mamíferos se orientam no escuro? Embora muitas pessoas pensem que são cegos, “conseguem ver tão bem como nós e em algumas situações até tendem a usar a visão em vez da ecolocalização para caçar”, explica Ricardo Rocha, investigador na Universidade de Cambridge.  

Fora da Europa, há mesmo “um grupo particular de morcegos, as raposas voadoras, que se alimentam de frutos e néctar, têm olhos particularmente grandes e uma visão particularmente apurada, conseguindo ver luz ultravioleta, em alguns casos.”

Ainda assim, quase sempre os morcegos recorrem à ecolocalização para se orientarem durante a noite: usam o som “para localizar e identificar um alvo, enviando pulsos sonoros e recebendo os ecos refletidos pelo mesmo”, descreve. É desta forma que ficam a saber o que está à sua frente, “incluindo o tamanho e a forma dos insetos e para onde se deslocam”.

Em Portugal, os morcegos produzem os pulsos sonoros da ecolocalização com a laringe, mas há países onde algumas espécies clicam com a língua.

Morcego-orelhudo-cinzento © Jasja Dekker/Wiki Commons

Quando se aproximam de um objeto, os morcegos emitem os pulsos sonoros numa sequência especialmente rápida, conhecida como sequência terminal (‘terminal buzz’, em inglês). “É particularmente importante na caça, uma vez que quando os morcegos se aproximam de um inseto, o aumento da frequência de pulsos de ecolocalização (que em algumas espécies podem aumentar até cerca de 190 por segundo), aumenta a precisão com que a trajetória da presa é calculada.”

Por outro lado, cada espécie tende a emitir pulsos de ecolocalização distintos, incluindo diferenças ao nível da frequência em que são emitidos e na forma e duração dos mesmos. Os cientistas captam estes sons com aparelhos especiais, pois muitas vezes o ouvido humano não os consegue ouvir, e depois analisam os sonogramas (representação gráfica do som). Desta forma, “podemos muitas vezes identificar a espécie, ou pelo menos, ter uma ideia de que tipo de morcego se trata”. 

Mas não são apenas os morcegos que usam a ecolocalização. Esta “é usada por golfinhos, baleias e até algumas aves!”.

Série

Um naturalista no Jardim Gulbenkian

Uma vez por mês, ao longo de um ano, a revista Wilder revelou algo a não perder no Jardim Gulbenkian e lançou-lhe um desafio: descobrir e fotografar ou desenhar cada descoberta. No ano seguinte, a partir da biodiversidade do jardim, e com a ajuda de especialistas, respondemos a vários “como e porquê” de aves, insetos, mamíferos, anfíbios e plantas.

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