Carolina Janeiro: “Uma bolsa de mérito é algo que nos encaminha muito”
Natural de Portalegre, Carolina Janeiro licenciou-se em Ciências da Comunicação e, este ano, começou o mestrado em Data-Driven Marketing, na NOVA IMS da Universidade Nova de Lisboa, em simultâneo com o seu primeiro trabalho a full-time na área do Marketing e da Comunicação. Pelo caminho, com a ajuda da Bolsa Gulbenkian de Mérito, fez um semestre Erasmus na Polónia. Cheia de energia e boa disposição, conta-nos, nesta breve entrevista, como ser bolseira Gulbenkian mudou a sua vida.
És licenciada em Ciências da Comunicação. O que é que te motivou a seguir essa área?
Sempre fui uma pessoa muito comunicativa, aquela que se destacava no grupo de amigos por não ter muita vergonha, querer conhecer e juntar mais gente. No momento de escolher o curso ainda pensei ir para Direito, mas enveredei por Comunicação porque achei que fazia mais sentido para mim. Na altura, tinha muito em mente seguir jornalismo, mas quando comecei a estudar perdi o encanto e foi um bocadinho por água abaixo.
O que te fez perder o encanto com o jornalismo?
Jornalismo, para mim, era muito brincar com câmaras e poder falar. Mas é muito complicado colocar-me na pele do jornalista que tem de assumir um tom completamente neutro a fazer certos relatos e notícias difíceis… Teria de ser muito forçado. Percebi que não ia ser uma área que me iria aliciar e fazer feliz a longo prazo.
E porquê seguir para Data-Driven Marketing? O que esperas com este mestrado?
Logo no primeiro ano da licenciatura escolhi especializar-me em comunicação estratégica, que está mais ligada ao Marketing e Publicidade. Sempre fui muito apaixonada pelo “lado de trás” do marketing, ou seja, pensar em termos analíticos como é que as coisas vão impactar mais o consumidor, como é que conseguimos chegar melhor a um grupo da população. É uma área muito emergente, e achei que era importante conseguir um mestrado que me pudesse ensinar mais dentro do marketing analítico, da análise de dados.
Começaste há um mês, não foi? Está a correr bem?
Sim! É em regime pós-laboral porque queria muito já estar a trabalhar na área e felizmente consegui, mais ou menos na mesma altura. É só complicado gerir em termos de horários, mas o conteúdo é sempre muito estimulante. Estou a adorar os professores da NOVA IMS, são muito preocupados e vê-se que nos querem passar todo o conhecimento que têm dentro deles [risos].
Tudo ao mesmo tempo: mestrado, novo trabalho… É o teu primeiro trabalho?
Já há muitos anos que trabalhava em campos de verão nas férias, com crianças; mas na área é a primeira vez. Não foi nada fácil encontrar trabalho, mas felizmente tudo se compôs como ambicionava. Estou a trabalhar numa agência de marketing digital e sou account, ou seja, estou em contacto direto com o cliente, faço gestão de redes sociais, email-marketing, gestão de conteúdos no website, validação de aplicações, etc.
O que atrai ao certo nesta área da Comunicação e Marketing?
Bem, eu também sou consumidora, todos os dias consumo conteúdos, seja de uma rede social de alguém, de uma marca ou de uma empresa. Gosto muito de pensar que há um conjunto de pessoas por detrás disso, não é uma coisa que cai do céu; alguém tem de fazer um brainstorming e pensar qual a estratégia a adotar e que tipo de conteúdo vai apelar àquela pessoa. Então fascina-me poder estar atrás, digamos que “à caça” do meu público-alvo. Ao fim do dia é muito satisfatório perceber que as estratégias que foram implementadas tiveram sucesso e impacto, e que aquelas pessoas se moveram em torno da nossa ação. É como se fosse um jogo.
Que importância teve a Bolsa Gulbenkian de Mérito na tua vida?
Uma bolsa de mérito é algo que nos encaminha muito. Ser bolseira de mérito hoje é poder dizer “ok, há um conjunto de pessoas que reconhece que fiz um bom trabalho”. Para uma pessoa que receba uma bolsa sem ter de se preocupar com o seu aproveitamento escolar, o percurso provavelmente não será tão enriquecedor, porque não temos ninguém que puxe por nós, que nos incentive a fazer melhor e a levar-nos mais longe. Há muito esta ideia, quando entramos na faculdade, de que não importa as notas que temos porque não serão valorizadas na entrada no mercado trabalho. Isso não é verdade: se conseguir estar de corpo e alma nas minhas aulas e tarefas também consigo aproveitar e reter muito mais daquilo que um professor me passou. Isso para mim é fundamental.
Depois, eu sou de Portalegre e graças à bolsa consigo aliviar a vida dos meus pais, que nunca foi muito fácil. O meu irmão Diogo também foi bolseiro Gulbenkian e estamos muito agradecidos porque conseguimos ter uma vida independente em Lisboa, e fazer com que os nossos pais não fiquem todos os dias de coração nas mãos, sem saber como vai ser o dia de amanhã. No segundo ano do meu curso a Bolsa ainda teve mais impacto porque começou a haver mais dinâmicas de grupo, onde nos pudemos encontrar presencialmente e fazer amigos. Isso é extraordinário, saber que partilho coisas em comum com outra pessoa, temos um percurso que se assemelha e estamos os dois aqui hoje porque alguém reconhece o nosso mérito.
Durante o teu percurso tiveste também oportunidade de fazer Erasmus na Polónia. Como foi essa experiência?
Graças à Bolsa Gulbenkian também tive apoio nessa aventura e consegui que um sonho meu se concretizasse. Estive um semestre na Breslávia e foi extraordinário, tenho muitas saudades. Estava no último ano da licenciatura, mas na Polónia o curso equivalia a um mestrado, por isso as turmas eram mais pequenas. Conheci professores incríveis que sabiam os nossos nomes todos e consegui progredir muito com eles. Apaixonei-me pela cidade, é linda linda linda.
A meu ver, toda a gente devia ter uma experiência Erasmus. Permitiu-me sair da minha zona de conforto, explorar diferentes culturas e perspetivas, conhecer diversas pessoas e sítios, viajar. Cresci muito, a nível pessoal, por causa desta experiência; ajudou-me a perceber que posso viver e resolver os meus problemas sozinha e está tudo bem.
Onde te vês daqui a 10 anos?
Há várias coisas que me apaixonam. Sei que hoje sou muito feliz com a função que desempenho na minha empresa, mas não sei se irei ficar por aqui; se calhar há outras áreas que gostava de explorar e posso até ainda nem saber. Mas ao dia de hoje, gostava que daqui a 10 anos pudesse cumprir a minha ambição de entrar numa empresa maior e poder efetivamente estabelecer uma mudança, ter o reconhecimento de que mudei alguma coisa e que foi importante, que fez a diferença.
Histórias de Bolseiros
Desde 1955, a Fundação Gulbenkian apoiou mais de 30 mil pessoas de todas as áreas do saber, em Portugal e em mais de 100 países. Conheça as suas histórias.