Obras Completas IV – Correspondência
Delfim Santos (1907-1966) foi um filósofo, pedagogo e pedagogista de raros méritos. Após a licenciatura em Ciências Históricas e Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, estudou Filosofia com mestres eminentes em Viena, Berlim e Cambridge. Desempenhou depois o cargo de Leitor na Universidade de Berlim e viria a ingressar no corpo docente da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, ocupando, até ao seu prematuro falecimento, a cátedra de Ciências Pedagógicas.
As Obras Completas de Delfim Santos, cujo quarto volume agora se publica, ficam assim enriquecidas com a correspondência que ao longo da sua vida de investigador, ensaísta e professor manteve com personalidades de relevo do mundo intelectual europeu e português.
Pelas 277 cartas selecionadas perpassam as diversas correntes filosóficas do século XX, os trabalhos e anseios da sua vida docente, as polémicas literárias e outros tantos aspetos que marcaram a sua geração e influíram na gestação da sua reflexão singular contida nos três volumes precedentes.
Delfim Santos foi um pensador plenamente realizado na sua vocação de filósofo. Não obstante, foi um professor frustrado de Filosofia. Doutorado em Filosofia com unanimidade de votos pela Universidade de Coimbra, a Faculdade de Letras desta Universidade relegou-o para as trevas exteriores. Professor catedrático de Ciências Pedagógicas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, esta condenou o filósofo às trevas interiores: foi, portanto, como professor de Filosofia, um scholar frustrado, embora tenha, como pedagogo, procurado filosofar. Como filósofo, todavia, não se lhe permitiu que oficialmente ensinasse. Uma tal exclusão não dignificou a Universidade portuguesa e impediu um pensador autêntico, que fizera os seus estudos filosóficos de especialização na Áustria, na Inglaterra e sobretudo na Alemanha, de exercer o seu magistério no domínio da pesquisa gnoseológica, tão pouco praticada pelos intelectuais portugueses. “Les Portugais n’ont pas la tête philosophique”, poder-se-ia dizer com propriedade, parafraseando a afirmação de um célebre clássico das Luzes que escreveu: “Les Français n’ont pas la tête épique”. Delfim Santos foi uma das poucas exceções à regra entre os nossos universitários que, na realidade, não têm demonstrado até hoje ser filósofos criativos e originais.
(Da introdução de José V. de Pina Martins)
Ficha técnica
- Outras Responsabilidades:
Introdução e edição crítica de José Vitorino de Pina Martins
- Idioma:
- Português
- Editado:
- Lisboa, 1998
- Entidade
- Fundação Calouste Gulbenkian
- Dimensões:
- 230 mm x 180 mm
- Capa:
- Encadernado
- Páginas:
- 488
- ISBN:
- 972-31-0808-9