No Volume III, Tomo II das Obras Completas de Miguel Baptista Pereira reúnem-se investigações, sempre densas e amplas, desenroladas entre 1980 e 1997. Nelas se confirma, por um lado, o raro talento filosófico do professor de Coimbra para traçar grandes quadros de pensamento contextualizador e, por outro, a vocação ímpar para manter vivos e orientadores no presente os grandes autores da história da filosofia.

Os textos aqui reunidos podem-se agrupar em dois grandes blocos: encontramos cinco grandes textos dedicados expressamente ao pensamento de Martin Heidegger (1889-1976) que, com toda a evidência, revelam a atenção e minúcia de análise dedicadas à publicação das obras completas do filósofo alemão, que se iniciou em 1975 e ganhou fôlego nos anos 80; um segundo grande núcleo de textos, sem perder de vista totalmente a figura tutelar de Heidegger, estende-se filosoficamente pela análise das possibilidades férteis do pensamento hermenêutico contemporâneo, sem esquecer as suas raízes fenomenológicas e os seus fundadores quadros teológicos, literárias e práticos.

Constata-se no labor filosófico destes anos o predomínio de uma orientação fenomenológico-hermenêutica da investigação, a partir da qual os dois blocos de textos referidos se articulam, cruzam e completam.

O autor procurou situar a famosa obra de Heidegger no contexto das filosofias da linguagem do século XX, nomeadamente, no âmbito da importante viragem efetuada, no início desse século, para o problema da linguagem. Acentua-se a importância do trânsito da crítica filosófica do conhecimento, que marcou a filosofia durante toda a modernidade, para a crítica da linguagem, para a qual muito contribuiu Heidegger.

Em Europa e Filosofia trata-se de investigar o fundo constitutivamente filosófico da ideia de Europa, nas suas múltiplas matrizes e variadas possibilidades, das quais avulta a vocação de mútuo acolhimento e reconciliação do outro, do novo e do diferente. A importância e atualidade deste texto são inegáveis e nele encontrará o leitor contemporâneo uma reflexão que aniquila e envergonha a superficialidade, ignorância e ligeireza com que recorrentemente se julga poder tratar, no hodierno espaço público, temas como «o papel da Europa no mundo», os «valores da Europa» ou outros quejandos.

(Da nota editorial de Maria Luísa Portocarrero e Luís António Umbelino)