1ª ed.

Obra filosófica I: 1911-1040

Edição digital

Acesso aberto

A II Grande Guerra mal havia principiado, quando Vieira de Almeida, de palavra fluente, clara e rigorosa, então pelos cinquenta e poucos anos, expunha a filosofia grega não a partir de um qualquer manual mas como quem conhecia diretamente os textos (estudados na sua língua original) e os integrara numa visão própria, a da sua própria atitude filosófica, claramente definida, pelo menos, a partir de A Impensabilidade da Negativa (1922).

Se em Portugal houve, neste nosso século, pensamento de virtual ou real nível europeu, ele passou por Vieira de Almeida. Radicado sempre na matinal experiência especulativa grega, que admiravelmente conhecia, o autor de Ordo Idearum. Ordo Rerum (1937) preferiu sempre a via do rigor lógico, reafeiçoado e alargado pelo matemático Boole, o que lhe permitia o repensamento de problemas de sempre (a partir do nascimento da filosofia) com uma metodologia incompatível com a lógica de Aristóteles e ainda com a usada por Kant.

Fora condenado pelo destino a falar para surdos, irremediavelmente aristotélicos mesmo quando, algumas vezes, repudiavam a metafísica do estagirita. Discreta mas infatigavelmente, «pregou» a moucos, um pouco como o nosso Santo António, obrigado, por vezes, a falar aos peixes.

Era a perfeita antítese do pregador, normalmente convencido da verdade ou das verdades hauridas em qualquer filósofo da moda. «Àqueles», escreveu em 1943, «que se julgam donos da verdade filosófica, deve fazer-se o que pedia a personagem de Dostoievsky: «perdoar-lhes a sua felicidade, mas não permitir que pretendam impor-no-la».

Como é que um pensador que por este modo, e tão pertinentemente, se refere à verdade poderia encontrar discípulos, mormente numa época digladiada por «verdades», cada uma delas maiusculada e com o seu altar e os seus sacerdotes?

Os mais novos mal ouviram falar do autor de La Tranchée de Chestov (1926) ou dos Paradoxos Sociológicos (1948) e naturalmente jamais o leram e estudaram. Valerá a pena estudá-lo, meditá-lo, situá-lo.

Numa visão global do conjunto da obra filosófica de Vieira de Almeida, as obras poderão ser distribuídas pelos seguintes núcleos fundamentais: gnoseologia e epistemologia, lógica, conhecimento histórico, psicologia e filosofia da arte.

 

(Da introdução de José V. de Pina Martins)


Ficha técnica

Outras Responsabilidades:

Introd. de Joel Serrão e de Rogério Fernandes

Coordenação editorial:
Fundação Calouste Gulbenkian. Serviço de Educação
Editado:
Lisboa, 1986
Páginas:
Vol. 1, 668 p.
ISBN:
973-31-0735-X
Atualização em 08 maio 2021

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