Obra Completa de Fernando Oliveira VII: História de Portugal e Livro da Antiguidade
Edição crítica – Fernando Oliveira
Fernando Oliveira (1507 – ca. 1585), ilustre humanista e polígrafo do século XVI, padre dominicano, filólogo, historiador e marinheiro, foi um génio português que viveu viajando. […] O seu legado engloba uma bibliografia com assinalável variedade temática, abarcando campos diversos (gramática, estratégia militar, cartografia, náutica e construção naval), entre os quais assume um lugar relevante a sua obra historiográfica, constituída pela Hestórea de Portugal, Recolhida de Escriptores Antigos e Crónicas Aprovadas, e pelo Livro da Antiguidade, Nobreza, Liberdade e Imunidade do Reino de Portugal.
A obra historiográfica […] é atravessada pelo ideário de definição de Portugal como uma totalidade identitária com origens, percursos históricos e destinos bem estabelecidos. […] Oliveira afirma-se como um tecelão da identidade coletiva num tempo de grandes transformações, tendo contribuído para potenciar uma consciência de povo português, capacitando-o, pelo conhecimento das raízes nobilitadas do passado, para enfrentar os desafios presentes e futuros que ameaçavam essa coesão e para salvaguardar a liberdade do reino, que queria capaz de resistir às tentativas de açambarcamento estrangeiro.
Encetado em duas obras chegadas até nós truncadas e inconclusas, apresenta-se como um dos mais ambiciosos projetos até então concebidos e intentados, operando uma instrumentalização política da história. Oliveira idealizou uma história geral de Portugal desde uma remotíssima antiguidade, construída miticamente com base numa utensilagem teológico-mental judeo-cristã, até aos reis do seu tempo, como anuncia no epílogo da primeira parte do Livro da Antiguidade.
O próprio título da segunda obra, a História de Portugal – modo de titulação inovador no quadro da historiografia portuguesa até então –, é bem indicador da abrangência do seu projeto. Nascida numa conjuntura dramática da história portuguesa – durante a crise dinástica de 1580 –, esta obra visa disputar um prestígio histórico superior para o reino de Portugal, fundando-o em bases míticas, à semelhança do que tinham intentado alguns historiadores espanhóis para o reino de Espanha.
Oliveira inscreve-se na tradição dos historiadores das denominadas «histórias gerais», que assentavam no paradigma fontal e estruturante da perscrutação da historiogénese das nações. […] Portugal é inserido na história do mundo, na ótica universal que é dada pela historiogénese consignada no primeiro livro da Bíblia. A história de Portugal é, assim, colocada em relação com a história do mundo e situada no âmbito da destinação universal dos povos e das nações, decidida por Deus e concretizada através de Noé e dos seus descendentes.
O historiador Fernando Oliveira inscreve-se, pois, na corrente historiográfica europeia que padecia de um deslumbrado fascínio pelas origens e que empreendeu a construção dos mitos das nações.
(Da introdução de José Eduardo Franco e Teresa Margarida Jorge)
Ficha técnica
- Outras Responsabilidades:
José Eduardo Franco (direção), José Eduardo Franco e Teresa Margarida Jorge (coordenação e estudo introdutório), José Eduardo Franco, Pedro Albuquerque e Teresa Margarida Jorge (anotação)
- Idioma:
- Português
- Editado:
- Lisboa, 2023
- Entidade
- Fundação Calouste Gulbenkian
- Dimensões:
- 170 x 230 mm
- Capa:
- Encadernado
- Páginas:
- 248
- ISBN:
- 978-972-31-1661-8