Obra Completa de Fernando Oliveira IV: Livro da Fábrica das Naus
Edição anotada – Fernando Oliveira
Construir navios havia sido, desde sempre, uma atividade regida pela mais inveterada empiria. O aparecimento das primeiras normas escritas nos textos italianos do século XV marca o princípio da época que poderíamos chamar das instruções técnicas, ou, como acontece no caso português, da tratadística, um período que vai, grosso modo, dos meados do século XV aos finais do XVII. As instruções técnicas mais ou menos extensas fornecem regras geométricas para a construção do casco do navio, embora não ainda de uma forma completa, como acontecerá com os tratados do século XVIII, que inauguram uma terceira fase, em que o estudo do navio contempla a geometrização total do seu desenho. A parte mais importante do navio passa a ser o seu desenho técnico, como perceberam desde logo os engenheiros construtores navais.
O Livro da Fábrica das Naus é o primeiro exemplo europeu de um manual de construção naval exclusivamente dedicado a navios de alto bordo, ou seja, para a navegação oceânica, e, especificamente neste caso, a navios da que se chamou depois tradição ibero-atlântica. […] Apesar de inserir desenhos no Livro, Oliveira não alude à necessidade de planear o navio em desenho ou da construção prévia de um modelo. Em contrapartida, comporta aspetos de uma enorme importância que destacam o seu carácter único. Um deles é, sem dúvida, a parte inicial do texto, em que o autor fundamenta as condições do conhecimento. Trata-se do único autor de um tratado de construção naval deste período que ultrapassa o nível de consideração do que se sabe para discutir o como se sabe e o porquê. Um bom exemplo desta fundamentação teórica é a afirmação do postulado aristotélico de que a perfeição é um atributo divino que não cabe na dimensão do humano, logo, os homens não podem fazer navios perfeitos; mas, como Deus criou um animal com a forma perfeita para andar no mar – o peixe –, então a forma do casco dos navios deve imitar a forma do corpo dos peixes, ou seja, a forma perfeita para andar na água – hidrodinâmica, dir-se-ia hoje.
O Livro refletia a prática dos estaleiros, tornando-se assim um instrumento fundamental para o estudo do saber-fazer da época. […] A obra permanece como um exemplo notável da tratadística europeia de arquitetura naval, não tendo existido até à data da sua composição obra alguma que se lhe equiparasse do ponto de vista da ilustração.
(Da introdução de Francisco Contente Domingues)
Ficha técnica
- Outras Responsabilidades:
Colaboradores: José Eduardo Franco (direção), António José Ferraz do Carmo, Francisco Contente Domingues, Filipe Castro (coordenação, estudo introdutório e anotação)
- Idioma:
- Português
- Editado:
- Lisboa, 2022
- Entidade
- Fundação Calouste Gulbenkian
- Dimensões:
- 170 x 230 mm
- Capa:
- Encadernado
- Páginas:
- 366
- ISBN:
- 978-972-31-1649-6