O Sofista
Platão
A figura do sofista é uma presença constante na obra platónica. No sentido amplo do termo, nos séculos V-IV a.C., sofista é um «homem sabedor» a quem – à semelhança do que acontece com qualquer artesão – é concedido pela cidade o direito de ser pago pelo exercício da sua profissão e da actividade didáctica a ela associada. Por estes dois motivos, entre outros, acha-se informalmente sujeito à obrigação de prestar provas ad hoc do seu saber e da capacidade para o ensinar.
Se pensarmos que as refutações apresentadas nos diálogos «socráticos» constituem exemplos paradigmáticos da reprovação nesses exames, perceberemos o motivo pelo qual Platão se interessa pelos sofistas. Percebe-se, em particular, porque se interessava por aqueles cujas propostas competiam com o seu próprio projecto de formação – a filosofia –, ensinando retórica e argumentação erística. É no conjunto de retratos que Platão lhes dedica que a figura do sofista, no sentido amplo, se acha condensada.
O objectivo programático de Platão, no Sofista, é resolver o problema da falsidade. Este objectivo, porém, não pode ser atingido sozinho, pois depende de uma cadeia de outros problemas, entre os quais se encontram algumas propostas defendidas nos diálogos sobre a Teoria das Formas.
Não basta viabilizar a falsidade, explorando a interdependência das noções de ser e não-ser. Há que mostrar como, ao usar a linguagem para descrever a realidade, sem deixar de ser «pensamento», o pensamento pode chegar ora à verdade, ora à falsidade, porém, sempre através dos enunciados que expressam opiniões.
Para que tal seja possível, há que reconhecer que toda a descrição do real por meio da linguagem requer uma teoria que aponte os diversos modos de dizer o Ser, nomeadamente separando os enunciados de identidade dos de existência e de predicação. No caso desta última, há ainda que – de acordo com o princípio da correspondência do enunciado ao real – mostrar que toda a predicação (lógica) é suportada pela participação (ontológica).
(Da introdução de José Trindade Santos)
Ficha técnica
- Outras Responsabilidades:
José Gabriel Trindade Santos (Prefácio, Introdução e Apêndice), Henrique Graciano Murachco e Juvino Alves Maia Junior (Tradução)
- Editado:
- Lisboa, 2024
- Entidade
- Fundação Calouste Gulbenkian
- Dimensões:
- 140 x 220 mm
- Capa:
- Encadernado
- Páginas:
- 264
- ISBN:
- 978-972-31-1417-1