A meditação dos federalistas americanos, lembrados pelos atuais leitores do fim da história, e confiadamente seguidos pelos que assumem o resultado constitucional da sua intervenção como um modelo observante para a reestruturação política do espaço europeu, é uma exigência que não pode ser ignorada.

Até porque a lição dos federalistas, que o livro perpetua, não foi a da insegurança sobre os princípios do governo republicano, foi a do realismo da intimidade com o modelo observado a organizar, com respeito pelos princípios, as “verdades evidentes” da Declaração de Independência redigida por Thomas Jefferson (4 de Julho de 1776): ameaças externas, rivalidades entre Estados, perigos internos, salvaguarda contra fações domésticas e insurreições, vantagens económicas, capacidades indispensáveis à defesa comum, equilíbrio de poderes, articulação entre os Estados e a Federação, a questão do executivo. Este sentido do real, orientado pela certeza dos princípios, parece recomendação suficiente para voltar à leitura dos textos. […]

The Federalist foi uma gigantesca intervenção ao mesmo tempo na defesa e criação da Constituição dos Estados Unidos da América, em dois anos de intensa participação de Hamilton, Madison e John Jay, num tempo em que a projeção do discurso no eleitorado não tinha o apoio dos atuais meios de comunicação. […]

O legado federalista americano, parte da The Great Conversation, tem tudo que ver com a atitude cívica, com os princípios firmes, com o realismo inovador, e nada com a inversão que se traduz em dogmatizar o modelo constitucional encontrado, ignorando a diversidade das múltiplas vozes do mundo sem fronteiras. Uma razão suficiente para que a oportunidade da publicação e o esforço dos seus autores sejam reconhecidos pela crítica que os espera.

(Do prefácio de Adriano Moreira)