Guia de Portugal. Vol. IV – Entre Douro e Minho. Tomo II – Minho
A província do Minho (pela última reforma regional circunscrita aos distritos de Braga e Viana) é constituída por uma complexa simbiose de montes e vales, extremamente pitorescos e variados.
No interior, o relevo é vigoroso, não desmerecendo por vezes a majestade e grandeza do de Trás-os-Montes e da vizinha Galiza. Junto do mar, as ondulações da terra, arborizada e granítica, são relativamente moderadas, acompanhando de perto os principais cursos de água, que dão escoamento a um sem-número de arroios e regatos.
O alto grau de humidade e a relativa fertilidade de solo fazem desta província, sobretudo nas linhas de água mais próximas do litoral, uma verdadeira colmeia humana. Por toda a parte a terra é esforçadamente trabalhada. Apesar da emigração intensa, que o sangra sem descanso, o povo minhoto não cessa de arrotear novos bocados de bravio e de «fabricar» novos cortelhos e quintalórios, logo cingidos por zelosos muros, em regra de pedregulhos toscos, mas por vezes aparelhados e possantes como panos de cerca afonsina. Em nenhuma outra província se faz notar tanto a existência do muro e a preocupação do muro.
Ao longo do mar, sucedem-se as praias, entremeadas de penedias baixas e de alguns pequenos portos amnenses, outrora acolhedores para os veleiros de longo curso, hoje muito assoreados e quase cingidos à navegação costeira.
No coração da província, a par da intensa e tradicional atividade agrícola, começa a pulsar a maquinaria das grandes usinas. […] Mas a fonte de riqueza fundamental do Minho é ainda a da lavoura; é a cultura dos cereais (sobretudo do milho), a criação do gado barrosão e a cultura do vinho. Nos anos de produção abundante – nas chamadas anesas – o Minho produz cerca de setecentas mil pipas de vinho verde.
As videiras bordam (e cobrem muitas vezes) os caminhos, como verdadeiros túneis de folhagem. São as chamadas latadas ou ramadas. À roda dos campos há mais usualmente uveiras de enforcado, à maneira romana. As vides grimpam pelas árvores, caindo em festões e formando por vezes de árvore para árvore graciosas guirlandas de verdura. O espetáculo é tão atraente no verão como no inverno, quando as árvores se recortam com nitidez nos campos macios e limpos.
(Da Introdução de Sant’Anna Dionísio)
Ficha técnica
- Outras Responsabilidades:
Direção: Sant’Anna Dionísio
- Idioma:
- Português
- Editado:
- Lisboa, 1964
- Entidade
- Fundação Calouste Gulbenkian
- Dimensões:
- 114 x 168 mm
- Páginas:
- 626
- ISBN:
- 978-972-31-0635-0