Acerca do Infinito, do Universo e dos Mundos
Giordano Bruno
Filippo Bruno, natural de Nola – terra que o filósofo imortalizou ao associá-la à sua obra e à sua nolana filosofia, depois de já ter recebido, por sua vez, o nome de Giordano com o qual entrou, em Nápoles, para a ordem dominicana.
Com tal nome e tal epíteto entrou, também, nessa errante e agitada vida que o levaria à fogueira de Campo dei Fiori, em Roma, depois de preso e processado em Veneza e de, a despeito da sua (tão controvertida) retractação, ser extraditado para Roma, onde a um longo e tormentoso encarceramento e à insistência dos juízes – «obstinada» e «intolerante» para uns, «ampla», «probante» e clarificadora, para outros – se seguiu o julgamento final, pelo tribunal do Santo Ofício, que o condenou à morte como «frade apóstata» e «herético impenitente», «pertinaz e obstinado».
Tão trágico fim deu, sem dúvida, muito do seu sentido à vida que assim interrompeu. Em muito pesou, também, no destino do pensamento que a tornara «herética». Entretanto, não será ousado sustentar que a filosofia de Giordano Bruno constitui, a par da de Francisco Suárez, uma das respostas possíveis à herança polémica e exegética e à situação histórico-cultural que fez de ambos (nascidos, aliás, no mesmo ano de 1548) «os dois únicos grandes filósofos da época moderna anteriores a Bacon e a Descartes».
[…] até que ponto estas duas filosofias se terão tornado dialècticamente complementares – não só à luz do contexto histórico que as viu surgir (e em que começou a operar-se a descentralização das unidades tradicionais de pensamento e de convivência, ao nível do regnum, do sacerdotium e do studium), como ainda através do processo que as mediou até nós, no duplo plano das respectitvas infuências doutrinárias e dos condicionamentos extra-filosóficos que as favoreceram ou entravaram.
O simples facto de o jesuíta Suárez ter recebido o título de «Theologus eximius et pius» da mesma pessoa, o Papa Paulo V que, quando ainda Cardeal Borghese (e com o jesuíta Belarmino, entre outros) consignou a sentença de morte do dominicano Bruno, a título de «apóstata» e «herético impenitente» – não poderia constituir impedimento para se investigar o que há de comum e diferente não só na motivação religiosa (e até política) da filosofia de cada um deles, como nas formas dialécticas (de ambiguidade ou de exclusão mútua) por que essa motivação foi assumida.
(Da introdução de Victor Matos e Sá)
Ficha técnica
- Outras Responsabilidades:
Victor Matos e Sá (Introdução), Aura Montenegro (Tradução, notas e bibliografia)
- Editado:
- Lisboa, 2023
- Entidade
- Fundação Calouste Gulbenkian
- Dimensões:
- 140 x 220 mm
- Capa:
- Encadernado
- Páginas:
- 258
- Título Original:
- De l'infinito, universo e mondi
- ISBN:
- 978-972-31-0003-7