Obra completa III
Francisco Rebelo Gonçalves (1907-1982) foi, no seu tempo, um dos nossos maiores filólogos: grande no domínio da filologia clássica e igualmente na filologia portuguesa.
No volume I da sua Obra Completa, prefaciado pelo seu discípulo e colaborador Raúl Miguel Rosado Fernandes, está patente a sua mestria como estudioso da civilização greco-latina; no tomo II, apresentado por outro aluno e colaborador, Justino Mendes de Almeida, impõem-se as suas investigações acerca da história da Língua Portuguesa.
Ninguém, no seu tempo, possuía um conhecimento tão sólido e profundo das Línguas grega, latina e portuguesa, de tal modo que lhe era fácil traduzir em grego e em latim composições poéticas de Camões.
Rebelo Gonçalves dominava igualmente os problemas da épica e da lírica camonianas. Daí que se tenha julgado indispensável reunir no tomo III, pela sua importância e pelo rigor, os seus estudos éditos e inéditos acerca da poesia épica e lírica de Camões. De grande nível crítico, articulado em cinco capítulos, no quarto, o autor interpreta um episódio de Os Lusíadas à luz de uma exegese analítica, comparando a voz do Velho à vox rationis dos coros nas tragédias gregas e latinas.
Nada mais será necessário para classificar o poeta de Os Lusíadas como humanista. Não obstante, Rebelo Gonçalves corrobora ainda esta primeira verificação crítica com o apuramento dedutivo de «identidades particulares da fala com matérias clássicas».
O estudo «Camões, Mestre da Língua», demonstrando um conhecimento perfeito da evolução da Língua portuguesa, teria bastado para justificar, em 1945, a designação de Rebelo Gonçalves como obreiro do Acordo Ortográfico entre Portugal e o Brasil.
O autor planeava a elaboração de uma edição crítica de Os Lusíadas. No seu estudo sobre «Problemas de crítica textual…» da epopeia, atém-se à resolução de problemas da ortografia, fonética e métrica. Ele bem sabia que foi um poema publicado em vida de Camões. Seria ocioso recorrer a argumentos de crítica textual genética, pois a edição de 1572 obteve teoricamente o aval do autor. Mas a edição de um texto, mesmo publicada com o consenso do autor, pode e deve ser melhorada. Rebelo Gonçalves buscou soluções ortográficas, fonéticas e métricas conformes à última vontade do Poeta.
(Da introdução de José Vitorino de Pina Martins)
Ficha técnica
- Outras Responsabilidades:
Nota prévia: Maria Isabel Rebelo Gonçalves
- Coordenação editorial:
- Fundação Calouste Gulbenkian
- Editado:
- Lisboa, 2002
- Páginas:
- Vol. 3, 372 p.
- ISBN:
- 972-31-0953-0