Na Universidade de Lisboa, em que se formou e professou durante mais tempo, muitos docentes de letras clássicas em Portugal foram seus discípulos, ou alunos de discípulos seus. Ele foi, por seu turno, o continuador na Universidade portuguesa dos ilustres mestres José Maria Rodrigues, José Joaquim Nunes e José Leite de Vasconcelos, em cujo ensino meticuloso aprendeu o método e o rigor que valorizam a sua obra.

Professor de grego e latim e de literatura greco-romana, estudioso apaixonado de filologia clássica e românica, conhecedor profundo da evolução da nossa Língua no seu percurso histórico, afirmou-se também como lexicógrafo competentíssimo. Camonista entre os maiores, publicou estudos valiosos sobre a influência das letras antigas em Os Lusíadas e deixou, inéditos, ensaios camonianos inovadores que serão incluídos no último volume da sua Obra Completa.

As suas contribuições sobre o camonismo, sendo quantitativamente menos imponentes, são de alta qualidade interpretativa e crítica. É que, para inovar pelo que concerne a uma leitura lúcida e hermeneuticamente rigorosa no domínio da problemática camoniana, é indispensável dominar um conhecimento amplo e profundo, largo e seguro da cultura clássica, do Humanismo e das fontes antigas e modernas sobre as quais se funda a obra do Poeta.

O texto de Os Lusíadas passou, com ele, a ser visto à luz da erudição clássica dos poemas homéricos e da incomparável poesia da suave pietas virgiliana. Além disso, apercebendo-se de que o recurso a hipóteses biografistas podia conduzir o hermeneuta a um tratamento crítico menos metodologicamente correto, postergou ao máximo o envolvimento exegético em tais percursos.

Foi o primeiro filólogo que, entre nós, tratou os textos antigos com um rigor metodológico moderno.

(Da sinopse inicial de José V. de Pina Martins)