Colóquio/Letras 190

set – dez 2015

Orpheu

O número de setembro de Colóquio/Letras é dedicado ao centenário da revista Orpheu que, nas palavras de Eduardo Lourenço, pode ser considerada “uma expressão exasperada, e publicitária quase, do espírito da Modernidade”.  Essa Modernidade, porém, está inscrita não numa rutura total, como surge noutros movimentos da época, como o Futurismo ou o Dadaísmo, mas dentro de uma absorção de tudo o que pode contribuir para a inovação, dentro do que Pedro Serra designa como um “impulso arquivístico”.  É o que se depreende do artigo de Patrícia McNeill, que relaciona Orpheu com esse passado, para falar de uma “paródia do Decadentismo” ou de um “pós-simbolismo”, a propósito das colaborações de Álvaro de Campos. Teresa Rita Lopes vai mais longe, ao recusar o exclusivo modernista de Orpheu e tratando-a sobretudo como palco de um “Sensacionismo a três dimensões, nascido da amizade entre Pessoa e Sá-Carneiro”.  É o que Paula Mendes Coelho vai desenvolver ao explorar a herança decadentista e simbolista muitas vezes preterida em função de uma leitura que reduz Orpheu aos seus textos mais vanguardistas, menosprezando os outros colaboradores.

Mas a Modernidade de Orpheu não pode ser completamente apreciada se não se tiver em conta o contexto em que surge, e isso será olhado em três momentos simbólicos pela pena de Fernando Cabral Martins, Paulo Alexandre Pereira e Paula Morão: em primeiro lugar, a revista A Águia, com os artigos de Pascoaes que se situam no mesmo espírito de manifesto que as vanguardas haviam adoptado; a obra de António Lopes Vieira, acentuando o lado nacionalista que Pessoa não desdenhará em vários momentos do seu percurso, até à Mensagem; e Júlio Dantas, o alvo por excelência dos modernistas, mas que importa reler no que ele representa de inovador na sua versão pessoal do Decadentismo. Também neste sentido escreve Tânia Martuscelli, tratando a revista Atlântida, que aprofundou a ligação luso-brasileira, ligação que esteve na base do projecto de Orpheu, embora a sua efémera duração não tenha permitido que prosseguisse.

Neste número são apresentados inéditos de Armando Côrtes-Rodrigues, previstos para Orpheu 3, e um texto de Aquilino sobre Pascoaes. Em suplemento é revelado um inédito de Almada escrito em resposta a declarações de António Ferro sobre a criação de um lar de repouso para artistas.

O n.º 190, com capa e separadores criados a partir de trabalhos de Adriana Molder, inclui ainda poemas de Pedro Mexia e Luis Maffei, um excerto, em pré-publicação, do novo romance de Lobo Antunes e as habituais secções de Notas & Comentários e Recensões Críticas.

 

Sumário

Ficha técnica

Outras Responsabilidades:

Nuno Júdice (dir.)

Idioma:
Português
Editado:
Lisboa, 2015
Entidade
Fundação Calouste Gulbenkian
Dimensões:
170 x 245 mm
Páginas:
288
Atualização em 16 dezembro 2021

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