Com este número dedicado a António Nobre, comemora-se o centenário da primeira edição do Só, obra a vários títulos determinante para a evolução da poesia em língua portuguesa do nosso século.

Com textos dirigidos ao conjunto da obra colaboram Vergílio Ferreira, José Carlos Seabra Pereira, Maria Ema Tarracha Ferreira, Alfredo Margarido e Fernando Pinto do Amaral. Uma minuciosa análise genética do soneto «Ao Alberto», por Vera Lúcia Vouga, desfaz um certo mito sobre a espontaneidade da escrita em António Nobre e ajuda a realçar a componente irónica da obra do poeta — componente até hoje pouco valorizada —, o que, aliás, volta a ser sublinhado no artigo de Rui Carreteiro, «Tragédia e comédia de ‘D. Enguiço’». Maria Manuela Gouveia Delille e Fernando Cabral Martins debruçam-se, respetivamente, sobre «A figura da femme fragile e o mito de Ofélia no Só» e «A imagem do poeta em António Nobre e Mário de Sá-Carneiro».

A correspondência nobriana é alvo de dois artigos — um de Manuela Parreira da Silva e outro de Maria Teresa Arsénio Nunes —, os quais transmitem, curiosamente, visões muito diversas sobre tal epistolografia. Neste campo, a revista é muitíssimo rica, pois são reveladas por Vera Lúcia Vouga três cartas inéditas de Nobre para Alberto de Oliveira, Albano Martins faculta o acesso a duas interessantes peças relativas ao «calvário» do poeta — uma carta a Manuel da Silva Gaio e outra ao irmão, Augusto Nobre — e Mário Cláudio comenta um bilhete-postal enviado por Alberto de Oliveira a Vasco da Rocha e Castro, em 1892, quando de uma visita ao poeta, então a estudar em Paris.

Colaboram ainda no número, com poesia, Pedro Tamen, José-Augusto Seabra, Helder Moura Pereira e M. S. Lourenço.

O volume é ilustrado pelo pintor Miguel Branco e também com a reprodução de documentos e objetos do espólio de António Nobre à guarda da Biblioteca Municipal do Porto.