Escrever Cinema Hoje
A especialista alemã de escrita de argumento, Françoise von Roy, irá desenvolver um curso / residência de escrita para cinema de curtas e longas-metragens, assistida por Graça Castanheira, professora na Escola Superior de Teatro e Cinema. O curso decorrerá na Fundação Calouste Gulbenkian em três momentos: 14 a 20 de abril, 1 a 7 de junho e 14 a 20 de julho.
Prazos de Candidatura e Elegibilidade
Dirigido a estudantes e profissionais de cinema, este curso tem inscrições abertas de 14 de fevereiro a 9 de março. As candidaturas devem ser submetidas online, exclusivamente em inglês, e só serão aceites as que reúnam todas as condições expressas no regulamento.
Candidaturas Regulamento
Escrever Cinema Hoje, por Françoise von Roy
Os filmes fazem mais do que contar histórias (dramáticas). Convidam à reflexão, permitem-nos experimentar uma emoção, um momento, uma questão, um lugar, uma pessoa. Os filmes tentam expressar o inexprimível, e se o conseguem é porque fazem mais do que contar uma história. Se reduzirmos a escrita de argumento ao simples contar uma história dramática, ignoramos as possibilidades do cinema, ignoramos que o cinema usa imagens, som, ritmo, silêncio e escuridão para criar uma experiência.
Neste seminário vamos explorar os aspetos do cinema que podem ser escritos, com a noção de que esses aspetos são mais do que enredo, mais do que história.
Desde o aparecimento dos manuais sobre argumento nos anos 1980 nos Estados Unidos, a noção de como devem funcionar os argumentos foi dominada por um conjunto de presumíveis regras. Algumas delas tornaram-se, alegadamente, truísmos que ainda são usados para determinar se um argumento resulta; muitas vezes estas regras não são totalmente compreendidas, nem na sua origem, nem no seu propósito; certamente não são nem nunca foram aplicáveis a todos os filmes. Contudo, são, infelizmente, muitas vezes ainda usadas como se fossem incontornáveis.
Como podemos escrever para cinema hoje e como podemos falar de escrita de argumento se concordamos que o tempo dessas regras terminou? Poderemos substitui-las por algo menos limitativo, mais contemporâneo, mais alinhado com práticas criativas, sem esquecer que cinema é também uma indústria?
Este seminário procura dar a conhecer como funcionam os argumentos para diferentes filmes e como a própria escrita indica mais do que o simples enredo. Os argumentos podem e devem também indicar como pretendem os realizadores comunicar e envolver-se com o seu público. Claro que o argumento não representa o trabalho final, mas é, sem dúvida, um indicador crucial para que o filme possa ser entendido pelos colaboradores, criativos e financeiros. Ao mesmo tempo, não podemos esquecer que o processo de escrita é criação, é desenvolvimento: um processo que pode clarificar aos próprios escritores a intenção do que estão querendo comunicar. A escrita de um argumento pode permitir ao escritor uma maior clareza e precisão, conseguindo, assim, que o rascunho final, enquanto texto, dê a quem lê uma ideia o mais aproximada possível do que será o filme.
As sessões práticas deste seminário pretendem demonstrar que a clareza da intenção é algo que se ganha através do processo de escrita e de aperfeiçoamento, conseguido ao longo do tempo. As sessões práticas em grupo darão apoio aos realizadores neste processo e o aspeto essencial de serem em grupo é o de cada participante poder participar não só no seu próprio processo, mas também no dos outros participantes do seu grupo.
Este seminário tripartido inclui elementos teóricos e práticos que irão introduzir e aprofundar o conhecimento de aspetos essenciais de escrita para cinema. Oferece aos participantes a oportunidade de escreverem e desenvolverem as suas próprias curtas ou longas-metragens. Podem vir a ser ajustados alguns tópicos para incorporar questões específicas que surjam do trabalho prático.
São doze os participantes propostos - quatro vão desenvolver argumentos para longas-metragens; quatro para curtas-metragens e os restantes participando sem projeto. Estes quatro últimos participarão nas sessões de grupo, dado que ler rascunhos e comentar é uma experiência valiosa de desenvolvimento
Os participantes têm que participar no conjunto das três sessões, que terão lugar em abril, junho e julho de 2020.
Biografias
Embora vivendo em Berlim, Françoise von Roy trabalha internacionalmente como conselheira de argumento em diversos projetos, incluindo filmes de género, experimental, documentário e de arte. Para além de ser consultora de produções individuais, von Roy é conselheira do Venice Biennale Cinema College, do Torino Film Lab, e consultora regular do German Ministry of Culture and Media (BKM) para projetos selecionados por esta entidade. Foi palestrante convidada do German Film and Television Academy em Berlin e no the Zurich University of the Artse também Professora Associada na University of Malta.
Com Franz Rodenkirchen, organiza o worhshop de desenvolvimento bimensal Script Circle para escritores e cineastas, e o workshop anual intensivo 6 Days of Practice para produtores e outros profissionais envolvidos na escrita de cinema.
Françoise von Roy é licenciada em Cinema e em Filosofia e Mestre em Media Production pela University of Kent at Canterbury, no Reino Unido.
Nascida em Angola (1962), Graça Castanheira é cineasta, formada em 1989, na Escola Superior de Teatro e Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa, onde atualmente é professora de Cinema Documental e de Prática de Realização.
Realizadora de documentários e de séries documentais, foi distinguida com inúmeros prémios ao longo da sua carreira.
Faz parte do grupo fundador da Apordoc - Associação pelo Documentário que promove o festival DocLisboa.
Criou em 2008 a sua própria empresa de produção e pós-produção - Pop Filmes.