“Reciclar” o investimento
Para o setor privado este inovador instrumento de financiamento possui características que o tornam aliciante, desde logo “a possibilidade de associar ao retorno financeiro o impacto positivo na sociedade”, conforme adianta Francisco Palmares, lembrando que “ambos os retornos estão dependentes do cumprimento dos resultados contratualizados”.
“Claro que existe o risco de não retorno do investimento mas penso que a possibilidade de um reembolso faz aumentar o número de entidades dispostas a aplicar valores em projetos do terceiro setor”. Quem o diz é Afonso Arnaldo, partner da Deloitte, empresa que investiu, juntamente com a Fundação Gulbenkian, no Faz-Te Forward, um projeto de promoção da empregabilidade de jovens NEET através do desenvolvimento de soft skills, coaching e mentoria. Afonso Arnaldo explica que “para aqueles que já investem a fundo perdido, desde que acreditem no projeto convertido em Título de Impacto Social, a possibilidade de reembolso é um ganho adicional. Se o valor for recuperado, poderá ser de novo investido. Caso não seja, não deixou de se realizar um projeto que, mesmo não atingindo todos os seus objetivos, terá com toda a certeza contribuído para o meio em que se desenvolveu. O progresso é feito de tentativa e erro”.
É precisamente a possibilidade de reinvestir o montante reembolsado, “reciclando” o investimento, o que torna um Título de Impacto Social atrativo para o setor privado, como confirma a experiência da Fundação Gulbenkian. Francisco Palmares conta que “depois de cinco anos a acompanhar estas experiências, a Fundação já conseguiu reciclar o retorno dos TIS noutros projetos e sistematizar várias aprendizagens”.
Tal como a Fundação Gulbenkian, a Deloitte deverá recuperar o seu investimento inicial pela aposta no Faz-Te Forward, que previa, por um lado, a integração no mercado de trabalho de 40% dos jovens abrangidos pelo programa (5 grupos de 30 jovens) nos 6 meses após o início da sua participação e, por outro, a manutenção do emprego de, pelo menos, 6 participantes de cada grupo por um período mínimo de 6 meses. Mais uma vez o sucesso tem sido alcançado: até agora, 40% dos jovens foram efetivamente integrados no mercado de trabalho e, desses, 53% mantiveram o emprego por, pelo menos, 6 meses.
Neste momento, os três projetos financiados encontram-se em fase final de recolha de evidências que deverão não só confirmar a possibilidade de reembolso dos investidores privados mas, sobretudo, contribuir para demonstrar as vantagens da utilização de um modelo alternativo de contratualização de serviços públicos com base no pagamento pelos resultados alcançados. Este é um modelo em que todos ganham: setor público, privado, social e, consequentemente, todos nós.
Títulos de Impacto Social: porquê apostar neste modelo de financiamento?
A Fundação Calouste Gulbenkian tem financiado, ao longo dos últimos anos, três Títulos de Impacto Social cujos relatórios intermédios foram recentemente apresentados pela MAZE, empresa na área do investimento de impacto criada pela Fundação.
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