Uma fórmula eficaz: as parcerias para o desenvolvimento
Termina este ano o prazo acordado por 189 países membros da ONU, em 2000, em Nova Iorque, para se atingirem os oito Objetivos do Desenvolvimento do Milénio, o último dos quais apontava para a criação de uma parceria mundial para o desenvolvimento. Alguns dos objetivos terão sido atingidos, total ou parcialmente, outros terão fracassado. Num caso ou noutro importa dar relevo às dinâmicas que estas metas criaram e pensar como cada um de nós é interpelado e também responsável pelo resultado coletivo.
“Desenvolvimento é o envolvimento de todos” não sei se é lema, se é crença, mas é uma frase que me serve e que recentemente ganhou maior aplicação. A agenda global para o desenvolvimento, assinada em setembro último, na Assembleia das Nações Unidas, implica e responsabiliza-nos a todos, num desenvolvimento sustentável à escala planetária.
Sobre o papel do voluntariado e a riqueza da experiência profissional e pessoal que dai decorre já muito se tem dito e escrito. Não vou falar sobre o que foi a minha experiência de Voluntária Mais Valia e dos dois meses no terreno (fevereiro e março de 2015), divididos entre a formação pedagógica dos recursos humanos das Escolinhas Comunitárias do Niassa em Cuamba – Moçambique e o contacto direto com as crianças nas comunidades rurais. Do que quero falar agora é dos frutos colhidos na continuidade da cooperação entre voluntários e organizações, para lá do tempo de missão e na vontade coletiva de melhorar uma resposta educativa de reconhecida necessidade, dando origem a um novo projeto, envolvendo novos parceiros.
O diagnóstico estava feito e, entre sucessos e dificuldades havia uma certeza: a resposta educativa dada pelas Escolinhas Comunitárias do Niassa justificava um reforço na qualidade educativa. Como fazê-lo era ainda a dúvida que restava. É aqui que se torna relevante a consciência de que para fazermos melhor precisamos de “outros” e que isso facilitará processos e aumenta a possibilidade de êxito. Reconfirmei esta convicção quando, chamada a sentar-me à mesa de trabalho dos Leigos para o Desenvolvimento (LD), encontrei novos parceiros, pertencentes a outras organizações: ONGD Fundação Fé e Cooperação (FEC) e a Escola Superior de Educação Paula Frassinetti (ESSE Paula Frassinetti). A razão destas presenças era clara: constituir uma equipa com competências e vasta experiência na área da educação.
Os LD com 28 anos de experiência na área de educação e de dinamização comunitária em Moçambique, para além de outras missões em países de África; a FEC com longo e reconhecido trabalho na Guiné Bissau, na formação em exercício de educadores e professores do ensino básico, melhorando as suas competências técnico profissionais e de gestão escolar, para além da produção e manuais de trabalho nesta área; a ESE Paula Frassinetti que, desde 1963, forma profissionais de educação através de licenciaturas, mestrados e pós graduações e experiência ao nível do pré-escolar em Moçambique. Foi fluído o trabalho, e para mim surpreendente o ritmo em que decorreu.
Quando voltei este ano a Cuamba para fazer a formação dos recursos humanos das Escolinhas Comunitárias do Niassa, o programa que levei já integrava os princípios pedagógicos elaborados pela ESSE Paula Frassinetti assumidos por todos como relevantes na formação dos monitores e supervisores.
Este texto é o testemunho de uma experiência de construção de um projeto que sendo da iniciativa de uma ONGD, sentiu necessidade de agregar contributos de outros (FEC e ESEPF) acrescentando competências reformadoras, conducentes a um projeto mais qualificado e por isso mais eficaz na resposta que pretende dar. Também eu cheguei a este projeto através de uma parceria (Fundação Calouste Gulbenkian – Programa Mais Valia e os LD Desenvolvimento) numa manifesta cultura de trabalho em rede que valoriza e otimiza recursos, com que me identifico e onde me sinto a realizar o meu papel de cidadã globalmente responsável.