Uma aposta na formação para reforçar competências de investigadores PALOP
Os cursos organizados pela Fundação, em áreas consideradas fundamentais para as ciências da saúde, envolveram mais de 300 investigadores PALOP, desde 2020. Além do aumento na publicação de artigos, os investigadores referem as novas oportunidades de carreira e a criação de redes, assim como a apresentação de propostas mais competitivas a concursos para financiamento de ciência, como resultado dos cursos de curta duração realizados.
A formação foi feita online, em áreas de investigação em saúde como a comunicação de ciência, a meta análise, a escrita científica, estatística ou a submissão de propostas a financiamento.
Delfina Hlashwayo fez o primeiro curso em 2020, enquanto estudante de doutoramento da Universidade Eduardo Mondlane (Moçambique), de “Revisão sistemática e meta análise”. Nesta altura contava com quatro artigos publicados no seu currículo. Após a primeira formação, publicou mais dois e, neste momento, já conta com dez artigos. É uma entusiasta destas formações, que abordam temas que lhe eram desconhecidos. “Com o curso de “Princípios da escrita científica”, ganhei habilidade para escrever artigos com qualidade, produzir gráficos e figuras, tão fundamentais nesta área. Foi no seguimento deste curso que fui convidada para ser editora na Plos One e no ano seguinte na Plos Global Public Health”. Seguiu-se “Formulação de recomendações”, “Bibliometria” – uma área completamente desconhecida que acabou por resultar em mais um artigo publicado, “Manuscript writing and publication”,” Estatística”, “Pesquisa de investigação cientiíica”, “Comunicação em investigação em saúde”, “Gestão de projetos”, “Liderança”, “Applying for funding” e, finalmente, “Análise de dados experimentais utilizando Business Intelligence”
“Tornei-me editora graças a tudo o que aprendi com a Fundação. Aumentei a minha produtividade científica e terminei o doutoramento com sucesso”. Foi ainda graças a um dos cursos que foi convidada para fazer a avaliação de projetos para o EDCTP. “Em 2020, no início do doutoramento, estava a tentar encontrar o meu lugar; hoje sinto-me parte da família Gulbenkian, cresci com a Fundação, com as diferentes pessoas com as quais me fui cruzando nestes cursos, formadores e colegas e temos assistido ao crescimento uns dos outros”
Nelson Cuboia, moçambicano, é médico e investigador doutorado em Investigação Clínica e em Serviços de Saúde pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Apesar da prática clínica, investigação e ensino, Nelson tinha um acesso limitado a formação avançada e pouca experiência em publicação científica. Frequentou sete cursos promovidos pela Fundação ao longo de três anos, que considera terem complementado, de forma eficaz, os conhecimentos adquiridos durante o doutoramento. Além do mais, fortaleceram as competências práticas e foram os impulsionadores para a publicação e a implementação de projetos, e para a publicação de oito artigos científicos, com revisão por pares e indexadas nas bases de dados da Web of Science e Scopus, “um marco que não havia alcançado antes destes cursos”.
Graças a uma das formações realizadas, Nelson Cuboia foi convidado a integrar a equipa editorial da African Science Frontier Initiative Research Journal como editor, na área de Epidemiologia e Saúde Pública e, mais recentemente, “passar de participante a facilitador no curso Introdução aos Estudos de Avaliação Clínica – África, organizado pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto com o apoio da FCG”.
A criação de redes de contacto e colaboração é outra das mais valias indicadas pelos formandos. Danilo Cunha, médico, a concluir o mestrado em Saúde pública no IHMT e com trabalho em projetos de emergência médica do Banco Mundial no Ministério da Saúde de Angola, está a fazer o curso “Introdução aos Estudos de Avaliação Clínica-África”. Para já, considera que a maior mais-valia é a aprendizagem em análise estatística. “É habitualmente a UNICEF ou outros parceiros quem fazem a análise estatística e apresentam os números quando temos surtos em Angola, nomeadamente sarampo e poliomielite. Atualmente, já tenho mais conhecimento das ferramentas e posso fazer a análise e cálculos dos dados, o que nos permite ter autonomia e não depender dos parceiros internacionais. A longo prazo é muito positivo”. Nesta formação, Danilo junta-se a mais sete colegas angolanos que trabalham no setor público e no setor privado, em Angola, e considera isso como um benefício para o país: “É Angola e são os angolanos quem sai a ganhar”
Introdução aos estudos de avaliação clínica com a UPorto
Neste final de ano, 70 estudantes e investigadores dos PALOP estão a participar no curso “Introdução aos estudos de avaliação clínica-Africa”, de 162 h, realizado pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, em regime de b-learning. Este curso pretende dotar estes estudantes de conhecimentos básicos de metodologias de investigação, bioestatísticas, escrita e publicação científicas, reforçando as suas capacidades de investigação e integração em equipas de pesquisa, contribuindo para a produção de investigação clínica de qualidade.
Esta é a última formação apoiada em 2024, somando-se a um curso em investigação clínica realizado pelo Instituto de Higiene e Medicina Tropical e mais oito cursos de curta duração: dois em Aplicação da estatística às ciências da saúde, Escrita de artigos científicos e publicação, Revisão sistemática e meta análise, Análise de dados e inteligência artificial, Qualidade, produtividade e impacto, Submissão de projetos de investigação a financiamento e Comunicação em investigação da saúde.
Com estas formações, a Fundação Gulbenkian pretende contribuir para o reforço das capacidades de investigação em ciências da saúde nos PALOP