Tchiloli: O papel das mulheres
A encenação representada no Tchiloli, em São Tomé – A Tragédia do Marquês de Mântua e do Imperador Carloto Magno –, assim como o Auto de Floripes, representado no Príncipe, são exemplos emblemáticos da crioulização cultural e do teatro sincrético. Conforme a tradição medieval, que curiosamente se prolongou até aos dias de hoje, cabe exclusivamente aos homens representar o papel de todas as personagens destas histórias: até mesmo os das mulheres.
Que papel desempenham então as mulheres nesta tradição? Algumas ficarão em casa, a cuidar dos filhos durante o espetáculo. Outras participam fora do palco, ajudando os homens a vestir-se ou trazendo-lhes água. Outras, ainda, tocam instrumentos como o chocalho ou o sino. É este o tema do segundo episódio dedicado ao Tchiloli, numa série documental realizada por Inês Gonçalves.
Com mais de 500 anos de tradição, o Tchiloli é a encenação de uma história de morte e traição, paixões e conflitos morais que entusiasma público e atores, onde a música, o movimento e o corpo se fundem numa surpreendente expressão da arte e cultura africanas. Foi apoiado várias vezes pela Fundação Gulbenkian, sendo, desde janeiro de 2019, apoiado através do projeto “(Re)Criar o Bairro”, da ONGD Leigos para o Desenvolvimento, que tem como objetivo a valorização de produtos associados ao património cultural do Bairro da Boa Morte, em São Tomé, através das artes performativas, visuais e da tecnologia.
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Apesar de referido pelos participantes são-tomenses entrevistados, não existe prova documental conhecida que possa apoiar a afirmação que o Tchiloli existe em São Tomé desde o séc. XVI.