Tapetes viajantes
Os tapetes Kum Kapi (em turco “porta de areia”) devem o seu nome a um bairro de Istambul onde, no século XIX, se fixaram vários mestres arménios que produziram luxuosos exemplares de nó em seda, comfios metálicos, inspirados nos tapetes persas clássicos dos séculos XVI e XVII. A excelente qualidade técnica e a riqueza dos materiais utilizados deram origem a verdadeiras preciosidades, produzidas entre 1890 e 1930, que contrastavam com as condições precárias em que eram realizadas.
Um dos mais prestigiados mestres deste tipo de tapetes foi Hagop Kapoudjian (c. 1870-1946), autor de três das quatro peças agora em exposição. Nascido na Turquia, estabeleceu-se em Paris no início do século XX, tendo sido responsável pelo restauro de alguns dos mais importantes exemplares persas da coleção de Calouste Gulbenkian. Além de reputado restaurador, Hagop foi também um exímio tapeceiro, dedicando-se ao estudo dos padrões dos tapetes persas do período safávida (séculos XVIe XVII) e criando, a partir deles, os seus próprios desenhos. Muitos dos seus tapetes são assinados em arménio, o que era pouco habitual devido às perseguições de que este povo foi alvo na altura.
Mekhitar Garabedian, de origem arménia, é um artista contemporâneo oriundo da Síria (n. 1977, Alepo) e a residir em Gant, na Bélgica. Garabedian apresenta duas obras que evocam exercícios de aprendizagem do alfabeto arménio, aqui materializados num tapete de nó e desenhados diretamente na parede da galeria.
Esta mostra põe lado a lado dois artistas de épocas e lugares diferentes que partilham um passado comum, estabelecendo um diálogo entre tradição e contemporaneidade, continuidade e reinvenção e evidenciando de forma surpreendente a relação entre o tapete e a viagem que aqui é, mais do que nunca, associada à diáspora arménia.
Em torno desta mostra terá lugar, este mês, uma conversa com as curadoras Clara Serra e Rita Fabiana, no sábado, dia 14, às 15h30, e duas visitas guiadas, nos dias 21 e 28 de maio, às 15h00.
Kum Kapi: tapetes viajantes
Curadoria: Clara Serra e Rita Fabiana
Museu Calouste Gulbenkian,Galeria de Exposições Temporárias
13 maio – 19 setembro