O Círculo Delaunay
Esta exposição, que abre ao público no dia 20, vai explorar o contexto criativo que rodeou Robert e Sonia Delaunay, durante o curto exílio do casal em Vila do Conde,há um século, entre maio de 1915 e janeiro de 1917.
Amadeo de Souza-Cardoso e Eduardo Viana, que integravam já o círculo dos contactos e amizades dos Delaunay em Paris, são membros ativos deste grupo, que se alargou a José Pacheco e ao jovem Almada Negreiros, na altura com 22 anos. Outro nome importante é o do pintor americano Samuel Halpert que Robert Delaunay tinha conhecido na Bretanha e que os visita em Portugal. Durante este período, marcado por intenso trabalho e por um grande dinamismo criativo, o casal Delaunay ensaia pintura a cera misturada a quente com pigmento, a qual contribuiu para uma maior vibração dos contrastes simultâneos (“pintura órfica”, como ficou conhecida). Amadeo, Eduardo Viana e Samuel Halpert adotam igualmente esta técnica, obtendo camadas de cores mais saturadas e aveludadas.
A exposição vai apresentar muitos dos trabalhos realizados em Portugal nesses anos, destacando o projeto coletivo a que chamaram La Corporation Nouvelle (Nova Corporação) e em que colaboram Amadeo, Viana e Almada, nela se inscrevendo igualmente Blaise Cendrars, Guillaume Apollinaire e o pintor russo Daniel Rossiné (ou Vladimir Baranov-Rossiné). Esta ideia nasceu, nas palavras de Robert Delaunay, “da necessidade de entreajuda das artes mais do que nunca em perigo, mais do que nunca uma realidade universal” e previa exposições itinerantes de norte a sul, de este a oeste, e a produção de álbuns, vendidos por subscrição e que acompanhariam as exposições, numa ação organizada de união entre artistas.
A acompanhar esta mostra, será publicado um catálogo com textos de investigação que aprofundam o tema, focando, nomeadamente, a relação de trabalho de Sonia e Robert Delaunay com Amadeo e com o galerista futurista italiano radicado em Estocolmo Arturo Ciacelli, responsável pela apresentação em Estocolmo, em 1916, da única exposição que se pode inscrever no quadro da Corporation Nouvelle. O volume destaca igualmente a encomenda a Sonia Delaunay de uma pintura mural para ser realizada em azulejo na fachada de um edifício em Valença do Minho, a influência da pintura simultânea, desenvolvida por Robert e Sonia Delaunay na poética literária e visual de Almada Negreiros e ainda a relação próxima de Eduardo Viana com os Delaunay.