Diálogos e novos olhares sobre as coleções
Com inauguração no dia da abertura do Jardim de Verão, a 23 de junho, a exposição Linhas do Tempo foca-se nas inúmeras possibilidades de diálogo entre as duas coleções, enquanto Convidados de Verão explora as relações entre obras de artistas contemporâneos colocadas em diálogo no espaço do Museu Gulbenkian/Coleção do Fundador.
Linhas do Tempo
As Coleções Gulbenkian. Caminhos Contemporâneos
Esta exposição é organizada a partir de uma data âncora – 1956, ano da criação da Fundação Gulbenkian –, e vai proporcionar um olhar retrospetivo de 60 anos, que nos conduz até 1896, e um trajeto que nos transporta até hoje. Entre uma e outra data, a exposição propõe um encontro das coleções da Fundação Gulbenkian: a Coleção do Fundador, adquirida por Calouste Sarkis Gulbenkian até 1955, e a Coleção Moderna, constituída após a sua morte e formada por obras do século XX até aos nossos dias.
Assente nestes pressupostos, a exposição avança e recua de modo a estabelecer uma linha de tempo (1896-2016) onde as pontes, os encontros, as datas e as circunstâncias artísticas e históricas das coleções se vão manifestando. Neste arco temporal, as ligações entre as duas coleções conduzem a descobertas surpreendentes, revelando associações inéditas que se vão sucedendo nos vários núcleos temáticos que compõem a exposição. É grande o valor simbólico do ano de 1896 pois é precisamente nessa data que se dá a primeira aquisição documentada de Calouste Gulbenkian: um conjunto de moedas gregas, o primeiro passo de uma coleção que foi crescendo em várias direções, tendo como critério a excelência – only the best, nas palavras do fundador.
Neste contexto, foram selecionadas cerca de 150 obras das duas coleções, muitas delas nunca mostradas publicamente, e outras arrancadas ao seu espaço habitual nas galerias. Juntas, contam pequenas histórias, algumas improváveis, sobre duas coleções, postas, não em sossego, mas num fecundo diálogo. A exposição irá também propor um olhar diferente sobre o modo como normalmente as coleções são encaradas, realçando, por um lado, a modernidade do fundador e, por outro, a natureza histórica da coleção moderna.
Construir pontes
Atento ao mundo em que vivia, Calouste Gulbenkian não deixou de admirar artistas da sua época como Auguste Rodin, ou comprar inúmeras peças a René Lalique ou ainda contratar designers para criar objetos de luxo e de decoração, num sinal claro de modernidade.
Entre as linhas de leitura propostas nessa exposição, revela-se, num primeiro núcleo, como ambas as coleções, no início, apostaram claramente na pintura de paisagem, mostrando, em seguida, os passos cautelosos em direção a novos estilos pictóricos. Por outro lado, será também realçado o modo como o gosto do Fundador pela arte francesa encontra um paralelo no acervo da coleção moderna. Outra ponte sugerida prende-se com testemunhos da vida moderna de Lisboa na década de 1920, em diálogo com o gosto pelas Artes Decorativas de Calouste Gulbenkian, em especial a art déco.
A exposição mostra também como a Coleção Moderna integrou, no seu início, obras de pintura e escultura que refletiam a vida de Calouste Gulbenkian, no tocante quer aos seus interesses no Iraque quer à sua educação em Londres. É o caso de pinturas surpreendentemente valiosas adquiridas em Bagdad ou das obras britânicas escolhidas pelo British Council.
Alguns projetos mais recentes remetem também, de diferentes formas, para o gosto do Fundador, seja através do seu jardim Les Enclos, na Normandia, do Monumento a Azeredo Perdigão, da autoria de Pedro Cabrita Reis, ou – mais alegoricamente – do trabalho com espelhos de José Pedro Croft. Tal como sublinha Penelope Curtis, este trabalho de Croft corporiza esta exposição, de um modo simbólico, apontando para cada um dos lados de 1956, de modo a refletir o passado e o futuro, convocando convergências e divergências surpreendentes.
Convidados de verão
A 23 de junho é também inaugurado o projeto Convidados de Verão no Museu Calouste Gulbenkian, que coloca em diálogo peças da coleção do Fundador com obras de artistas contemporâneos. Esta iniciativa inclui também um conjunto de intervenções escultóricas de Fernanda Fragateiro, criadas para locais específicos do Jardim Gulbenkian, onde vai decorrer grande parte dos eventos do Jardim de Verão.
Os bancos de cimento existentes no jardim desde 1969 serão revestidos por chapas de aço coladas sobre o assento e laterais. A artista selecionou dez, num percurso que vai do edifício sede à zona de piqueniques, passando pelos roseirais, pelo pinhal em frente do edifício da coleção Moderna, seguindo as margens do lago.
Para o diálogo no interior do Museu Gulbenkian foram convidados artistas portugueses – Rui Chafes, Vasco Araújo, Francisco Tropa, Miguel Branco, Miguel Palma, Patrícia Garrido, Pedro Cabral Santo, Susanne Themlitz, Bela Silva, Diogo Pimentão – e três estrangeiros – Wiebke Siem, Yael Bartana e Asta Groting.
Vasco Araújo intervém no corredor que conduz os visitantes da arte do Extremo Oriente à arte europeia, trabalhando sobre questões de arqueologia e recorrendo a um texto de Susan Sontag para oferecer uma poderosa metáfora da arte, do tempo, das linguagens e do património material e imaterial.
Já Susanne Themlitz escolheu a zona de mobiliário do século XVIII, onde coloca duas obras que correspondem a uma experiência de integração tão imprevista quanto eficaz: uma pintura abstrata de cores e planos vigorosos, e uma mesa com objetos, sugestão iconológica e deriva surreal enquadráveis no universo imagético e no requinte dos móveis circundantes.
Apenas dois exemplos de um conjunto de encontros singulares no âmbito de uma iniciativa que pretende sublinhar a transversalidade, as relações inesperadas e a proximidade formal ou conceptual de obras de épocas diferentes. E que promete surpreender.
Curadoria:
Penelope Curtis, Leonor Nazaré Museu Calouste Gulbenkian / Coleção do Fundador e Jardim Gulbenkian