(Por) dentro de uma Mente Criativa

Um Ciclo de conferências e uma exposição que dá a conhecer a forma particular e única de pensar de arquitetos portugueses consagrados e a riqueza do trabalho quotidiano nos seus ateliês, no longo percurso entre as primeiras ideias e a obra construída.
15 mar 2016

De autoria e curadoria de Eduarda Lobato de Faria, (Por) dentro de uma Mente Criativa [Inside a creative mind] é um projeto sobre o processo criativo da conceção em Arquitetura. Trata-se de uma iniciativa do Programa Gulbenkian de Língua e Cultura Portuguesas que contempla um ciclo de conferências, num formato que promete ser inovador, e uma exposição onde poderão ser vistos projetos dos arquitetos Aires Mateus, Álvaro Siza Vieira, ARX Portugal, Eduardo Souto de Moura, Gonçalo Byrne, Inês Lobo e João Luís Carrilho da Graça.
O ciclo de conferências quer promover o diálogo com profissionais de referência em Arquitetura, a partir de entrevistas conduzidas pela curadora, seguidas de uma conversa alargada à assistência. “Dar a conhecer a experiência, o conhecimento, o pensamento, o método de trabalho e as ideias que conduzem a conceção dos projetos dos arquitetos convidados” é como Eduarda Lobato de Faria descreve o propósito deste projeto. Assumidamente fã do formato televisivo norte-americano “Inside the Actors Studio” – um programa com entrevistas aos grandes nomes do cinema, cujo resultado final se assemelha a uma “masterclass” –, Eduarda Lobato de Faria, professora na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa há cerca de 30 anos, reconhece que concebeu este ciclo de conferências a pensar especialmente nos seus alunos, estudantes do curso de Arquitetura e futuros arquitetos.

“Pensei que seria extraordinário que os alunos de todas as escolas de Arquitetura pudessem ter um contacto mais direto com a realidade, podendo dialogar e fazer perguntas a grandes profissionais de Arquitetura. É um formato de conferência que permite aos arquitetos convidados falarem, de forma ampla, sobre o seu percurso de vida profissional”, diz a curadora, que fala de inovação e de aproximação entre os profissionais e o público, desejando que este projeto possa trazer muitos jovens à Fundação Calouste Gulbenkian.

 

Sete projetos, uma exposição

“A minha ideia é que o público siga o caminho de uma obra de arquitetura”,

diz a curadora sobre a exposição que irá mostrar desenhos conceptuais, esquissos, maquetes de estudo e finais, desenhos técnicos, desenhos digitais, fotografias de obra, entre outros materiais que contam a história dos projetos que estarão em exposição e que foram selecionados livremente pelos próprios autores.

 

Entre os diferentes ateliês, os materiais que são mostrados nesta exposição divergem: “Os arquitetos têm métodos e processos de conceção diferentes. A intenção é exatamente expor essa diversidade”, explica a arquiteta que publicou, em 2014, Imaginar o Real –O Enigma da Conceção em Arquitetura, o livro que decorreu da sua tese de doutoramento e foi o ponto de partida para este projeto, que conta com prefácio de Álvaro Siza Vieira.
“Pensando no fenómeno da criatividade, sempre me interessou tentar objetivar aquilo que aparentemente é subjetivo e que não se pode explicar: por que é que alguém, num qualquer processo criativo, faz determinadas escolhas e não outras?”, pergunta Eduarda Lobato de Faria, que na sua tese de doutoramento analisou este fenómeno especificamente em Arquitetura. “É uma abordagem universal. Nesse processo enigmático, existem elementos constantes que interagem, como o ser humano, o tempo, o desenho, a obra, independentemente de quem faça arquitetura, onde faça e com que meios.”

Para a seleção dos arquitetos que participam neste projeto, contou com a colaboração de Pedro Gadanho, que irá dirigir o novo Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia em Lisboa (MAAT) e que, em 2010, foi um dos curadores da Conferência Internacional sobre Arquitetura e Ficção em que Eduarda Lobato de Faria também participou e que se intitulava Once upon a Place: Haunted House & Imaginary Cities.

“Como consultor curatorial neste projeto, [Pedro Gadanho] ajudou-me a alinhar os arquitetos convidados, numa lógica de ‘mestres e discípulos’, como é o caso de Siza Vieira e de Souto de Moura, de Carrilho da Graça e de Inês Lobo, ou de Gonçalo Byrne e os Aires Mateus.”

“Esta exposição pretende interessar todas as pessoas que gostam de Arquitetura, e mesmo as que a desconhecem, desmistificando a ilusão de que o arquiteto um dia acorda com uma ideia luminosa e que, como por magia, o projeto se resolve e se materializa. Queremos mostrar que é um caminho complexo e muitas vezes tortuoso”, sublinha Eduarda Lobato de Faria.
Uma das grandes paredes da sala de exposições exibe sete filmes, uma realização para cada um dos profissionais da autoria de Catarina Mourão, onde se pretende registar a presença do arquiteto na sala com um monólogo acerca da obra exposta. “Não concebia que alguém estivesse dentro do mundo das ideias de um arquiteto sem a sua presença, a sua gestualidade, a sua voz e o ambiente de trabalho pessoal que o rodeia. Foi assim que pensei nos filmes como um elemento evocativo forte e acromático, registando apenas luz, sombra e valor de cor: as imagens vão pulverizar o pensamento dos arquitetos através da sua voz, que vai estar sempre presente na sala. Estaremos sempre a ouvi-lo a falar livremente sobre o projeto apresentado.”

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