Ser Mais-Valia
Mafalda França é a presidente da nova associação Ser Mais-Valia, criada pelos voluntários do Mais-Valia da Fundação Calouste Gulbenkian, um projeto de voluntariado em cooperação para o desenvolvimento nos PALOP para maiores de 55 anos. Tem 68 anos, é educadora de infância, integrou a bolsa de voluntários na 1.ª edição, e agora fica responsável pela recente associação que pretende alargar o âmbito a projetos não só nos PALOP, mas em Portugal e noutros países da Europa.
Quais são os objetivos da Ser Mais-Valia?
O grande objetivo é criar uma bolsa com os voluntários que vêm do projeto Mais-Valia e alargar a outros voluntários para continuarmos a desenvolver projetos de voluntariado e cidadania na área da ajuda ao desenvolvimento. Queremos partilhar os nossos conhecimentos, competências e saber acumulados ao longo destes anos de vida e continuar a intervenção nos PALOP, com a possibilidade de alargar a Portugal e a outros países. Uma das prioridades será o reforço da bolsa porque há valências em falta. Em cerca de 50 voluntários, só há dois educadores de infância, e não somos suficientes. A educação é uma área muito procurada e a bolsa tem professores do ensino básico até ao ensino universitário, mas no pré-escolar as pessoas que existem não são suficientes.
Como vê o potencial desta associação numa lógica de cidadania ativa nesta faixa etária?
A população maior de 55 anos é cada vez mais “jovem” e com mais potencialidades ao nível da saúde. As pessoas deixam os empregos, mas não querem deixar de estar ligadas à sua profissão; sentem-se bem, estão ativas, com capacidade física, e sentem-se capazes de usar essas competências e pô-las ao serviço de outros.
Que tipo de projetos é que a associação espera vir a aceitar?
Há três áreas nas quais a associação espera vir a trabalhar: educação, saúde e direitos sociais. Temos de encontrar parceiros e para isso temos um longo trabalho para nos darmos a conhecer, mostrar que queremos cooperar, ser um reforço nos projetos que as organizações têm, para que eles próprios possam cumprir os seus objetivos. As ONGD, as instituições de várias naturezas –estatais ou privadas – que desenvolvam trabalho junto de comunidades e que seja preciso um reforço nas atividades que desenvolvem, podem contar connosco. Não numa lógica de substituição de recursos, mas como uma mais-valia nas instituições e um reforço dos projetos.
Quais são as suas prioridades enquanto presidente da associação?
Em primeiro lugar, espero que esta bolsa seja dinâmica e que todos se sintam envolvidos, que não se sintam à margem. Uma grande preocupação minha é encontrar formas de envolver todos os voluntários e é por isso que teremos de procurar outros projetos nacionais e internacionais onde seja possível a sua participação maioritária. A associação Ser Mais-Valia vai dar os primeiros passos e teremos de fazer uma forte campanha para perceber se realmente podemos ser úteis em ONGD que trabalham em Portugal. Porque há uma questão que é a idade. A bolsa destina-se a maiores de 55 anos e não há limite de idade. Os membros da bolsa nem sempre têm capacidades físicas para ir para África. É importante que, mesmo em Portugal ou noutros países, os voluntários possam tentar desenvolver as suas competências em projetos de desenvolvimento em Portugal ou noutros países da Europa.
A minha segunda prioridade é melhorar a capacitação dos voluntários na ajuda ao desenvolvimento, para podermos fazer cada vez melhor. Quando partimos em missão, as nossas competências profissionais e vontade de fazer esbarram com dificuldades quando chegamos ao terreno. Confrontamo-nos com coisas para as quais é preciso estarmos preparados. Vamos ter de ser mais capazes de fazer melhor, mais capazes de estar em meios que por vezes nos são hostis. É preciso uma melhor preparação para a ida para o terreno e perceber o que é isto da ajuda ao desenvolvimento. Queremos estar ao serviço dos outros, de forma adequada.