Os escritos de Agustina
O primeiro texto assinado por Agustina que aparece nesta obra é “Óculos Escuros” e começa assim: “Eram dois tipos – que tipos! – um deles, certo homenzinho magro, de feições repuxadas, como se tivesse sido vítima de várias operações plásticas de rejuvenescimento.” Datado de 11 de outubro de 1951, o texto fazia parte do Diário do Norte, publicação que apresentaria outros textos da escritora nos anos subsequentes, antes do Diário de Notícias ou do Diário Popular.
Lourença Baldaque, neta da escritora, recolheu e organizou estes textos a partir de um desafio do seu avô, Alberto Luís, que lhe entregou uma lista com as datas aproximadas de colaboração de Agustina com jornais e revistas. Estes são textos que estavam perdidos na memória da imprensa e que correspondem a 56 anos de escrita, em 58 de vida literária ativa da escritora. O trabalho exigente de investigação e recolha durou dois anos e apresenta-se agora como o corolário da edição de textos inéditos da escritora pela Fundação Gulbenkian, iniciada com a publicação em 2014 da obra Elogio do Inacabado.
Se o Diário do Norte foi o primeiro a receber os seus artigos, não foi decerto o mais procurado por Agustina. José António Saraiva refere no prefácio do livro a publicação de mais de 200 artigos no Diário Popular, um dos seus preferidos. Diário de Notícias, Jornal Novo, Jornal de Letras, Primeiro de Janeiro e outros títulos vão publicar crónicas, contos, observações e textos da autora de A Sibila. Saraiva escreve que uma das curiosidades do seu trabalho de prefaciador foi a de procurar comparar a escrita de Agustina Bessa-Luís nos romances e nos textos jornalísticos, tentando encontrar as diferenças. Depois de tudo lido, as diferenças não se notam, e escreve José António Saraiva:
“Aliás, cautelosamente, a escritora começou a sua colaboração nos jornais com a publicação de contos, isto é, de pequenos textos de ficção, onde podia dar largas à sua incansável imaginação e à escrita luxuriante que nunca abandonará”.
Nestes Ensaios e Artigos continuamos a ter a escrita característica de Agustina, observadora exímia da realidade que a circunda, com o seu olhar perfurante e pena afiada. No último texto datado de 2007, publicado na revista Autêntica, pode ler-se: “A minha amiga L… (não se cansem a imaginar quem será; não é Lúcia, nem Laura, nem Leonarda) tinha dois contras na vida dela: a falta de dinheiro e a infidelidade do marido. Queixava-se amargamente de ambos, mas, por fim, já tomava as coisas com uma grandeza à grega. Um poeta que a estimava muito perguntou-lhe porque não enganava o marido. – Com quem? Só se fosse com o Alexandre da Macedónia.”
No dia 6 de fevereiro, às 18:00, no Auditório 3, a obra será apresentada por Lourença Baldaque e José António Saraiva. Guilherme d’Oliveira Martins, administrador da Fundação, e Mónica Baldaque, filha de Agustina Bessa-Luís, estarão também presentes na sessão. Quatro dias depois, a 10 de fevereiro, será a vez de o Porto conhecer Ensaios e Artigos com a intervenção dos mesmos apresentadores. A sessão está marcada para as 18h30 na Biblioteca de Serralves.