Onze histórias de esperança
Jocelino, Solita, Beatriz, Paulo, Canjinha e Abel estão entre os vários protagonistas das histórias que se contam no livro Por mais escura que seja a noite… Amanhã é outro dia, que regista o impacto de onze projetos apoiados pelo Programa Cidadania Ativa, entre 2013 e 2016. Com textos da jornalista Inês Rapazote e fotografias de José Carlos Carvalho, o livro acompanha várias pessoas que dão rosto a projetos que procuraram promover a empregabilidade e a inclusão dos mais jovens, reforçar os valores democráticos e os direitos humanos, melhorar a capacidade de atuação de organizações não governamentais e influenciar as políticas públicas.
Para fazer as onze reportagens que compõem este livro, Inês Rapazote e José Carlos Carvalho percorreram muitos quilómetros. Para ir até aos Açores, por exemplo, onde passaram alguns dias com Jocelino. Aí ficaram a saber como este rapaz, que foi parar à construção civil com 16 anos, depois de ter sido expulso da escola, acabou numa formação em pastelaria e doçaria por via da Cáritas da ilha Terceira. Uma história que, como outras, resulta de um “tropeção” na vida mas acaba com um futuro que se perspetiva com esperança.
Tropeção é também o mínimo que se pode dizer da história de Abel, que os autores do livro conheceram em Custóias. O ex-recluso, que ali passou cinco anos, voltava ao “inferno onde mergulhara fundo”, desta vez integrado numa estrutura da Associação PELE para apoiar, formar e credenciar reclusos (como Jimmy, também retratado neste livro), potenciando a sua inserção na sociedade. A história de Abel comprova que é possível “começar de novo”. Nascido no seio de uma família de classe média, conseguiu alcançar o sonho de muitos jovens: tornar-se jogador de futebol. Mas uma lesão no joelho e umas férias que acabaram em “descalabro” arruinaram-lhe a vida e deram-lhe entrada direta na prisão.
Cada uma das onze histórias do livro abre com uma prova de contacto de 37 fotogramas a preto e branco. Evocando práticas da era pré-digital, nessas imagens introdutórias estão assinaladas quais as que veremos ampliadas nas páginas seguintes. No caso da história de Solita, da Guiné-Bissau, que, depois de uma formação proporcionada pelo Serviço Jesuíta aos Refugiados, está a trabalhar na cozinha central de uma grande cadeia de supermercados, não houve dúvidas que o momento da chegada da filha ao aeroporto de Lisboa tinha de ser destacado. Era um acontecimento há muito desejado, mas que se deu por acaso enquanto as reportagens para este livro estavam a ser realizadas. A jornalista não conseguiu estar presente, mas o fotógrafo estava lá e, sendo um projeto a dois, transmitiu-lhe tudo aquilo a que assistiu: a apreensão da mãe com a demora da criança em cruzar a porta das chegadas, o cheiro a peixe seco impregnado na bagagem dos passageiros daquele voo, e a frieza do primeiro contacto entre as duas, depois de uma separação de seis anos. “Até que Duiny chegou. Vinha de olhos bem abertos. Ao ver a mãe, não correu, não sorriu, não chorou. Aceitou. Foi um reencontro, um ponto de viragem. A partir desse momento, havia que reconstruir um passado suspenso. A partir desse momento, abriu-se toda uma vida nova à sua frente.”
Programa Cidadania Ativa
Financiado pelo Mecanismo Financeiro do Espaço Económico Europeu (EEA Grants) e gerido pela Fundação Calouste Gulbenkian, o Programa Cidadania Ativa (2013-2016) desenvolveu o seu trabalho para o fortalecimento da sociedade civil em Portugal. Em quatro anos, foram apoiados 113 projetos, em que participaram cerca de 170 ONG e muitas outras organizações, tanto de Portugal como dos países financiadores do Espaço Económico Europeu (Noruega, Islândia e Liechtenstein). Entre 2013 e 2016, foram distribuídos sete milhões de euros, em apoios que beneficiaram diretamente as vidas de mais de 80 mil pessoas por todo o país.