Nova Presidente na Fundação
Isabel Mota foi eleita por unanimidade pelos seus pares e iniciou funções no dia 3 de maio. Na cerimónia de posse, a presidente lembrou o prestígio e o importante contributo da Fundação para Portugal e sublinhou a necessidade de “trilhar caminhos novos”. Na mesma cerimónia, o Presidente da República condecorou Artur Santos Silva com a Grã-Cruz de Sant’Iago da Espada como forma de reconhecer “uma carreira dedicada à cultura”.
O início de mandato da nova presidente da Fundação Calouste Gulbenkian foi assinalado numa cerimónia realizada no dia 3 de maio, na presença dos colaboradores da Fundação e de muitas figuras públicas que se quiseram associar, entre as quais o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e dos seus dois antecessores, Jorge Sampaio e Aníbal Cavaco Silva.
Membro executivo do Conselho de Administração desde 1999, Isabel Mota tinha sido eleita por voto secreto, em dezembro passado, depois de se ter apresentado à votação por solicitação dos seus colegas. Sucede a Artur Santos Silva que terminou o seu mandato após cinco anos na presidência da Fundação. Na ocasião, o Presidente da República condecorou Santos Silva com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada pelos serviços prestados em prol da cultura, manifestando, “no melhor local possível”, como deixou claro, o reconhecimento de todo o país. Uma condecoração que distingue a ação de Santos Silva nos vários locais por onde passou – Serralves, Casa da Música e Fundação Gulbenkian.
A cerimónia terminou com um apontamento musical, com a presença de uma formação de solistas da Orquestra Gulbenkian que interpretou, no palco do Auditório 2 da Fundação, o primeiro andamento do Sexteto para Cordas n.º 1, op. 18 de Johannes Brahms.
Determinação e compromisso
Foi num tom de gratidão por Calouste Gulbenkian e pela instituição que criou que Isabel Mota, a primeira mulher a assumir a presidência da Fundação, iniciou o seu discurso na cerimónia que assinalou o início do seu mandato. Revelando estar a viver um dos momentos mais “marcantes” da sua vida, confessou alguma “apreensão” por suceder a “personalidades tão conhecidas e admiradas” na sociedade portuguesa. “Mas porque sou uma mulher de coragem, e sei que na vida nada acontece por acaso, e que tudo tem o seu tempo, foi com grande determinação que assumi este desafio”.
Sublinhando o “privilégio” e a “responsabilidade” de servir uma instituição “ ao serviço do bem comum”, Isabel Mota assinalou, com humor, os traços que a distinguem: “Sei que vou romper a tradição coimbrã da Faculdade de Direito – sou mulher, economista e de Lisboa – mas julgo que é mais uma prova da extraordinária capacidade de adaptação e evolução da Fundação”.
A nova presidente salientou que 20 anos de vida na Fundação tornaram tudo “próximo” e “familiar”, afirmando também estar certa de ter o apoio do Conselho de Administração nos “compromissos essenciais” para que a Fundação “continue a desempenhar, de forma exemplar, a missão que lhe foi confiada por essa personagem fascinante do século XX que foi Calouste Gulbenkian”.
A pensar nos próximos tempos, a nova presidente diz que o principal desígnio da Fundação é “antecipar o futuro e apostar na inovação, ajudando a preparar os cidadãos de amanhã”, sem esquecer a integração da Fundação nas principais redes de fundações internacionais, que classifica como “uma mais-valia indispensável para uma eficaz intervenção nos grandes problemas do nosso tempo”. E acrescenta: “Entre o local e o global a Fundação deve continuar o seu trabalho filantrópico enquanto instituição portuguesa aberta ao mundo”.
No seu discurso, Isabel Mota assumiu vários compromissos para este mandato: um compromisso com o futuro para assegurar a “sustentabilidade dos recursos naturais e dos sistemas sociais”; um compromisso com os mais vulneráveis, “que deverão ser os principais beneficiários da atividade da Fundação” e finalmente um compromisso com a cultura, – arte, educação e ciência – “que nos dá a sabedoria e os alicerces da tão necessária tolerância nos tempos conturbados em que vivemos”. Chamando a atenção para o que considerou ser a sua mensagem principal, afirmou: “Vejo a Fundação como uma instituição filantrópica, única e una, que constrói a sua identidade na diversidade da sua intervenção, da arte à ciência, da educação à beneficência, as quatro finalidades estatutárias definidas pelo nosso fundador, numa combinação equilibrada de recursos”.
À luz destes compromissos, Isabel Mota enunciou alguns dos pontos fundamentais da sua agenda que passa por intervir em três pilares fundamentais: a coesão social, a sustentabilidade e o conhecimento; aumentar o impacto social das atividades da Fundação; impulsionar a preparação das novas gerações e das novas lideranças; potenciar a criação artística ativando o papel cívico da cultura; destacar o potencial das artes na compreensão e diálogo entre diferentes civilizações; posicionar a Fundação como centro de reflexão e debate, em parceria com as principais fundações, “think tanks” e universidades; e também aumentar a flexibilidade da organização no sentido de maior agilidade e transversalidade, mantendo a liberdade de opção nos caminhos a seguir.
Um balanço de despedida
No discurso enquanto presidente cessante, Artur Santos Silva começou por destacar a presença do Presidente da República e dos seus antecessores, que, para além de conferir um “especial significado” a esta transmissão de testemunho, “reflete bem a fundada expectativa” na liderança da nova presidente, “cuja vida tem sido totalmente dedicada ao servir o bem comum”. Depois de ter rendido homenagem a Calouste Sarkis Gulbenkian, responsável pelo “gesto de maior generosidade que alguém teve para com o nosso País”, bem como aos presidentes e aos membros dos anteriores Conselhos de Administração, Santos Silva agradeceu também a todos os colaboradores e aos membros dos Conselhos consultivos da Fundação, tendo deixado uma palavra especial a João Lobo Antunes, “o único membro dos Conselhos Consultivos que já nos deixou” e que qualificou como uma “personalidade de exceção”.
Santos Silva recordou o início do seu mandato, em maio de 2012, numa altura em que o país “vivia uma das crises mais graves da sua história contemporânea” que o levou a privilegiar uma “relação de proximidade da Fundação com os portugueses”. Na altura, defendeu a importância de “assegurar as condições da perpetuidade da Fundação”, dando prioridade à “dimensão, solidez e rentabilidade do seu património” e fazendo um esforço de redução da sua estrutura de custos fixos.
Depois de enunciar alguns programas e projetos que promoveu durante o seu mandato, Artur Santos Silva afirmou que o património da Fundação “manteve-se praticamente constante entre 2011 e 2016”, pelo que julga estarem garantidas as “condições de sustentabilidade da instituição”. Anunciou ainda ter dado início, em 2015, a “uma reflexão sobre a estratégia de intervenção da Fundação”, para que possa continuar a ser uma “instituição filantrópica de referência”, adaptada aos “novos e desafiantes contextos culturais, sociais e económicos.”
O presidente cessante, terminou a sua intervenção como começou, elogiando o perfil da sua sucessora, realçando “o profundo conhecimento da Fundação”, as suas “raras qualidades humanas e profissionais”, a “capacidade de mobilização e motivação de equipas”, o “talento de fazer acontecer”, atributos que constituem “uma sólida garantia da excelência do seu desempenho futuro.”
Isabel Mota é a sexta presidente da Fundação e a primeira mulher a assumir o cargo. É também a primeira presidente a “quebrar” uma tradição comum aos anteriores presidentes, todos eles formados em Direito pela Universidade de Coimbra. Licenciada em Finanças pela Universidade de Lisboa, Isabel Mota integra o Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian desde 1999, após uma passagem de três anos pela direção do Serviço de Planeamento, Orçamento e Controlo da Fundação. Entre os vários cargos que exerceu antes de iniciar funções na Fundação, foi Conselheira na Representação Permanente de Portugal em Bruxelas e Secretária de Estado do Planeamento e do Desenvolvimento Regional nos XI e XII Governos Constitucionais, com responsabilidade nas negociações com a União Europeia dos Fundos Estruturais e de Coesão para Portugal.
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