Nova exposição de Sara Bichão
Esta exposição nasce de uma forte experiência pessoal que levou Sara Bichão a questionar-se sobre si mesma: como identidade singular, com um corpo próprio, e como parte de um todo. A artista relata a sensação de pânico que viveu num lago vulcânico quando, ameio da travessia da cratera a nado e sozinha, se apercebeu que estava no centro da mesma. Nesse momento, uma força invisível terá espoletado, na artista, a emoção expressa pelo título. Sara Bichão (Lisboa, 1986) frequentou a prestigiada Residency Unlimited, em Nova Iorque, e realizou exposições individuais em várias cidades europeias e norte-americanas. O seu percurso tem vindo a assumir projeção internacional. Em vésperas da sua estreia na Fundação Calouste Gulbenkian, falou-nos da experiência que esteve na génese da exposição e desvendou alguns dos seus próximos projetos.
Pode descrever a experiência que deu origem a esta exposição?
Passou-se num lago, uma cratera vulcânica na zona de Auvergne, em França. A vontade de percorrer o diâmetro a nado, porque necessitava de concretizar um esforço ou porque a escala do perímetro me parecia relativamente pequena, espoletou a experiência. Acerta altura desorientei-me. Eram águas paradas, a profundidade da cratera incerta mas decerto imensa. O meu pensamento ficou tomado por todas as variáveis que tornavam o corpo muito frágil naquela situação.
De que modo é que esta instalação traduz o sentimento que a invadiu?
Há uma zona de charneira entre o que poderia ter acontecido e o que não aconteceu que marca o tempo e a geografia desta exposição. Depois, estão vincadas inquietações que dizem respeito ao nosso corpo e, por outro lado, aos afetos. Foi uma experiência forte que dirigiu o desenvolvimento dos trabalhos. Não poderia haver nem mais nem menos obras.
Esta exposição representa uma continuidade ou uma rutura com o seu trabalho anterior?
A identidade que carrego de ontem não é a mesma de hoje nem será a de amanhã. Esta exposição é uma continuidade do que já fiz, mas é também um desprendimento de limites ou fixações anteriores. Qual o momento da sua carreira que mais a marcou até agora? Marcaram-me muitos. Mas este é o que importa neste momento, não só porque é o projeto mais recente, mas também pela responsabilidade inerente à exposição na Fundação. Onde se sente melhor para desenvolver o seu trabalho? Lisboa? Nova Iorque? Sinto-me muito bem em Lisboa, mas não sei se será o melhor lugar para desenvolver o meu trabalho. Depende de tantos fatores: de concretização, de luta, das emoções. Do tempo.
Que projetos tem para o futuro próximo?
Aproveito para vos convidar a visitar a exposição Chama – com o meu trabalho, o da Rita Ferreira e o do Pomar, no Atelier-Museu Júlio Pomar. No verão, conto ir a Houston para uma exposição coletiva e, a seguir, começo a trabalhar para um projeto que tenho desenvolvido com uma artista francesa, Manon Harrois, que poderá ser visto em Lisboa no final de 2018.
SARA BICHÃO
Encontra-me, mato-te.
Curadoria: Leonor Nazaré
Espaço Projeto – Coleção Moderna
16 mar – 4 jun 2018