Manoel de Oliveira Fotógrafo
Tiradas entre os finais da década de 30 e o início dos anos 1950, estiveram estes anos todos guardadas no arquivo pessoal de Manoel de Oliveira. Parte delas corresponde a provas originais, outra a ampliações feitas a partir de negativos – mas são todas a preto e branco.
São ao todo 120 fotografias, na sua maioria inéditas, que, através da lente de uma Leica, percorrem vários géneros e temáticas – há paisagens, retratos e naturezas mortas, referências ao Porto, a sua cidade, mas também imagens do circo e de aviação. Além da preocupação estética, transmitem a grande curiosidade do realizador pela fotografia e o seu interesse pelos fenómenos óticos.
A fotografia era, para Manoel de Oliveira, um instrumento de pesquisa formal e de experimentação, uma outra forma de construir a sua linguagem visual. Três fotos (de 1952) tiradas a uma jovem defunta que Manoel de Oliveira foi chamado a fotografar (como era hábito na época) hão de fazer lembrar o filme O estranho caso de Angélica, estreado em Cannes em 2010. Uma imagem estática transformada anos mais tarde em movimento.
Iniciada no final dos anos 1930, a atividade fotográfica de Manoel de Oliveira intensifica-se no início da década de 1940, para ser abandonada quando, após a longa pausa cinematográfica que se seguiu a Aniki-Bóbó (1942), regressa à realização com O Pintor e a Cidade (1956).
Possível substituto circunstancial do cinema, é clara a relação entre algumas das suas fotografias e certos projetos fílmicos não realizados – as imagens no circo foram tiradas no ano em que escreveu o guião O Saltimbanco (1944); as da aviação, datáveis de 1937-38, relacionam-se com um projeto de documentário, até agora desconhecido, sobre os cursos de pilotagem do AeroClub do Porto.
No seu regresso ao cinema, e tendo entretanto frequentado um estágio para aprendizagem da cor na AGFA, em Leverkusen, Alemanha, Manoel de Oliveira assumiria a direção de fotografia dos seus filmes até à realização de O Passado e o Presente (1972).
Estas imagens, estáticas, além de revelarem uma faceta até agora desconhecida de Manoel de Oliveira – a de fotógrafo – ajudam ainda a contextualizar o rigor de composição que carateriza os seus filmes e abrem novas perspetivas sobre a evolução da sua obra cinematográfica. Ou vêm mostrar como a imagem – fixa ou em movimento – pode ser a companheira de uma vida.
Uma mostra de fotografias do Acervo de Manoel de Oliveira, Casa do Cinema Manoel de Oliveira — Fundação de Serralves, Porto, com a curadoria de António Preto.
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