Gonçalo Ribeiro Telles (1922- 2020)

© Nuno Vieira
11 nov 2020

O Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian expressa o seu profundo pesar pelo desaparecimento do Arq. Gonçalo Ribeiro Telles, uma figura ímpar ligada à Instituição desde o primeiro momento. Isabel Mota, presidente da Fundação, lembra “o amigo e visionário que inspirou gerações de arquitetos paisagistas, responsável, em conjunto com António Viana Barreto, pelo desenho do jardim da Fundação Gulbenkian, um espaço que se tornou emblemático para todos os que diariamente aqui esquecem o bulício da cidade”.

A presidente da Fundação destaca  “o incansável defensor das cidades ecológicas e humanizadas, das reservas e parques naturais, dos jardins e das hortas urbanas, perante a ameaça constante dos interesses privados e corporativos”. “Nunca é demais realçar o espírito de um homem à frente do seu tempo que viu, como poucos, o que reservava o futuro numa altura em que os alarmes das crise ecológica e climática ainda não soavam com a força de hoje. Um homem profundamente cansado de ter razão que tantas vezes viu a cidade tomar um rumo contrário à visão que, sabiamente, defendia, baseada num profundo conhecimento e num amplo bom-senso. Este homem que apreciava o carácter dinâmico dos jardins, tão ligado ao movimento da vida, como gostava de dizer, com elementos que nascem, crescem, reproduzem-se e morrem, ficará para sempre ligado a esta Fundação e a este jardim admirável que ajudou a criar.”

Nascido em 1922, Gonçalo Ribeiro Telles formou-se em Agronomia e Arquitetura Paisagista em 1950, no Instituto Superior de Agronomia, tendo desempenhado diversos cargos políticos e participado na fundação de instituições referenciais no panorama da cultura nacional. Publicou vários livros e artigos.

A nível nacional foi agraciado com o Grau de Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago (1969), Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo (1988), Grã-Cruz da Ordem da Liberdade (1990). Internacionalmente, destaca-se: o Prémio da Latinidade Troféu Latino «João Neves Fontoura» (2010) e o Prémio Sir Geoffrey Jellicoe (2013).

Em 1950 e 1957 é candidato à Assembleia Nacional pelos Monárquicos Independentes, em 1961 pela CEUD; em 1969 é co-fundador do Partido Popular Monárquico (PPM) e em 1993 é cofundador do Movimento Partido da Terra; entre 1974 e 1976 é subsecretário de Estado do Ambiente e secretário de Estado de Ambiente; de 1981 a 1983 desempenhou as funções de Ministro da Qualidade de Vida; foi deputado da Assembleia da Republica pelo PPM em 1975 e, em 1985, volta novamente ao Parlamento como deputado independente pelo Partido Socialista. Em 1985 é Vereador da Câmara Municipal de Lisboa pelo Movimento da Terra.

Da sua passagem pelo governo nasceu um conjunto de decretos-lei que foi determinante para a definição de uma política de ambiente e de paisagem, destacando-se a Reserva Agrícola Nacional e a Reserva Ecológica Nacional.

Enquanto deputado na Assembleia da República são da sua responsabilidade as propostas da Lei de Bases do Ambiente, da Lei da Regionalização, da Lei Condicionante da Plantação de Eucaliptos, da Lei dos Baldios, da Lei da Caça, e da Lei do Impacte Ambiental.

Do trabalho desenvolvido como vereador na Câmara Municipal de Lisboa (CML) sublinhamos a criação do Parque Periférico de Lisboa, o Projeto do Corredor Verde de Ligação do Alto do Parque Eduardo VII ao Parque Florestal de Monsanto e a Proposta de Estudo de uma Estrutura Biofísica e Cultural para o Concelho de Lisboa.

Entre 1951 e 1953 integra a 3ª Repartição de Arborização e Jardinagem da Direção dos Serviços Especiais da CML.

Entre 1955 e 1960 é admitido como Arquiteto Paisagista do Gabinete de Estudos de Urbanização da CML, dirigido pelo engenheiro Guimarães Lobato.

De 1971 a 1974 dirige, enquanto arquiteto paisagista, o sector de Planeamento Biofísico e de Espaços Verdes do Fundo de Fomento da Habitação.

Em 1975, juntamente com um conjunto de jovens arquitetos paisagistas Alexandre Cancela d’Abreu, Margarida Cancela d’Abreu e o escultor Nuno de Mendonça, funda o curso de Planeamento Biofísico que em 1981 se transformaria na licenciatura em Arquitetura Paisagista da Universidade de Évora. Naquela instituição foi Professor Catedrático, entre 1976 e 1992, depois Professor Emérito e recebeu, em 1994, o grau de Doutor Honoris Causa.

Enquanto profissional liberal desenvolveu um conjunto de projetos a várias escalas da paisagem: jardins privados e públicos, parques públicos, corredores verdes, implantação de rodovias, recuperação de pedreiras, recuperação de quintas de recreio, integração paisagística de unidades fabris, ordenamento rural e do território.

Fundação Calouste Gulbenkian© Ricardo Oliveira Alves
Fundação Calouste Gulbenkian© Ricardo Oliveira Alves

No conjunto da sua obra evidenciam-se:

Mata de Alvalade (1951-1955); Plano de Urbanização da Quinta Grande em Oeiras (1953); Ajardinado da Avenida D. Rodrigo da Cunha (1953); Alvalade Bairro das Estacas (1953) Enquadramento da Capelinha de São Jerónimo (1953-1959); Alfama e Castelo- Enquadramento Verde (1953-1959); De 1959 a 1969, juntamente com António Facco Viana Barreto, desenha o jardim da Fundação Calouste de Gulbenkian. Em 1958 já havia sido convidado pelo Eng. Guimarães Lobato a desenhar o Jardim das Instalações Provisórias da Fundação; Shell Banática Integração e Valorização Paisagística (1963); A pedreira da Tijocal (1963); Estudo Geral do Enquadramento Paisagístico do Vale da Ribeira de Algés (1967); Prainha – Três Irmãos Revisão do Plano de Urbanização (1969); Plano Integrado de Almada (1971-1976); Jardim na mata dos Medos (1994).

Definição de Cookies

Definição de Cookies

Este website usa cookies para melhorar a sua experiência de navegação, a segurança e o desempenho do website. Podendo também utilizar cookies para partilha de informação em redes sociais e para apresentar mensagens e anúncios publicitários, à medida dos seus interesses, tanto na nossa página como noutras.