Fundação Gulbenkian lança ideias para o futuro pós-Covid-19
“Diz-se que as catástrofes – como esta, do coronavírus – afetam todos por igual, que não conhecem fronteiras.” Mas o professor de filosofia política Daniel Innerarity discorda, sobretudo “se olharmos para as fronteiras da idade”. No seu entender, “a crise do coronavírus ameaça principalmente os ‘maiores’, enquanto a crise climática prejudica mais os jovens”, criando tensão entre gerações. Mas “onde vemos um conflito, há uma possibilidade de reconciliação”, acautela, na sua leitura de um futuro pós-Covid. A questão que coloca, agora, é se estaremos preparados para defender, de igual modo, os interesses de quatro a seis gerações em simultâneo.
Muitas são as leituras da vida num mundo pós-pandemia, bem como as questões que se levantam. Simon Kuper, cronista do Financial Times, por exemplo, questiona-se sobre o impacto desta crise na vida das cidades. Pela primeira vez na História, diz, metade da população mundial vive nas cidades. O atual “medo dos transportes públicos” trará mais carros para a rua ou, pelo contrário, mais bicicletas? Como evoluirá a mobilidade urbana e, com ela, a poluição, que “mata sete milhões de pessoas por ano”? É pois “nas cidades que o futuro do clima vai ser decidido”, reflete Kuper, que se interroga sobre a possibilidade da morte dos transportes públicos ou do despovoamento das cidades.
Mas o impacto da pandemia extravasou fronteiras. Joseph Weiler, professor de Direito na NYU, acredita que no pós-Covid-19 “encontraremos um mundo onde a liderança mundial dos Estados Unidos praticamente desapareceu e não haverá ninguém para os substituir. Será uma confusão, geopoliticamente.” Do outro lado do Atlântico, garante, as fragilidades da União Europeia foram postas a nu durante a pandemia, o seu “profundo défice democrático” exposto. Que papel poderá ter a Europa nesta nova era? E que papel terão os regimes autoritários, que “aproveitaram para melhorar ainda mais a natureza dos seus regimes”?
Entre intergeracionalidade, a nova vida nas cidades ou os caminhos sinuosos da geopolítica, há todo um mundo de questões levantadas e de ideias apresentadas nesta série de depoimentos sobre a vida pós-Covid-19. Além de Innerarity, Kuper e Weiler, muitos outros nomes consagrados, como o Chef Andoni Luis Aduriz ou a presidente do Tribunal Constitucional italiano, Marta Cartabia, acederam responder à questão lançada pelo Gulbenkian Future Forum: “Covid-19: E depois?” Mas sendo o mundo composto por várias gerações, o Gulbenkian Future Forum desafiou também jovens promessas a refletir sobre a nova ordem global. Das desigualdades às novas oportunidades, das alterações no mercado do trabalho às relações interpessoais e à forma como se passará a expressar o afeto, da circulação de informação às fake news, esta série de vídeos curtos dá voz a cerca de quatro dezenas de pensadores de todas as idades, que partilham as suas reflexões sobre o mundo pós-Covid-19.
Todas estas Gulbenkian Ideas serão publicadas regularmente ao longo das próximas semanas.
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