Eu não evoluo, viajo.
A partir de 9 de julho, a Fundação Gulbenkian apresenta a primeira exposição retrospetiva dedicada ao pintor José Escada (Lisboa, 1934-1980), dando a ver e a conhecer um artista que desenvolveu uma obra intensa e abundante, com um forte sentido de experimentação. Utilizou diferentes meios e técnicas – o desenho, a ilustração, as colagens, os relevos recortados, entre outros géneros artísticos – e colaborou com artistas, arquitetos e escritores. São expostas cerca de 170 obras – algumas inéditas, a larga maioria proveniente de coleções privadas –, divididas em cinco núcleos temáticos que seguem uma orientação cronológica, entre 1955 e 1980, e que abarcam diferentes fases criativas.
O percurso de José Escada inicia-se na década de 1950, de um modo muito prometedor e ativo, marcado por colaborações com arquitetos, sobretudo no contexto do MRAR (Movimento de Renovação da Arte Religiosa). Destaca-se também a colaboração em livros, revistas e jornais, quer como ilustrador, quer através da produção de textos críticos sobre a arte moderna e o ensino artístico em Portugal, uma produção que permaneceu esquecida e que é agora publicada no catálogo que acompanha a exposição.
Bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris, entre 1960 e 1961, Escada intensifica naquela cidade as suas pesquisas em torno da abstração, colaborando no grupo KWY, com os artistas Lourdes Castro, René Bértholo, Costa Pinheiro, João Vieira, Gonçalo Duarte, Christo e Jan Voss. Criado em torno de revista KWY (1958-1963), o grupo continuaria ativo até 1968.
O período parisiense que se prolonga até 1971, um dos maiores e mais ativos, é o palco para a criação de um universo singular e complexo de figuras recortadas antropomórficas. Estes anos ficam igualmente ligados a uma pesquisa em torno do espaço, das propriedades plásticas da superfície da pintura e da tridimensionalidade, com a emergência, a partir de 1965, dos seus relevos-objetos tridimensionais.
Os anos de 1970 veem surgir uma nova representação, as “cordas” ou “amarras”, a qual acompanha uma produção em torno da representação do corpo – acometido, oprimido e, por fim, libertado –, um corpo político que faz corpo com a história de um país que, em 1974, se liberta de um regime ditatorial. Já no fim da década, nas vésperas da sua morte prematura, aos 46 anos, a obra de José Escada centra-se em trabalhos mais figurativos e autobiográficos, representando um mundo que tenderá a ser de proximidade: o bairro do Alto de Santo Amaro em Lisboa, a casa da mãe, o seu quarto-ateliê, a sua janela.
Dividida em cinco núcleos, a exposição percorre todas fases da sua obra. Em Joie de Vivre, revisita-se a génese do seu trabalho, menos conhecido, onde emergem simultaneamente a linha de contorno sinuosa e uma paleta rica e luminosa; Iluminações apresenta um conjunto de trabalhos produzidos entre 1963 e 1965 onde a luz é central como elemento transformador do espaço da pintura, mas também como elemento místico; em Metamorfoses predominam os relevos tridimensionais e as colagens que evidenciam uma figuração antropomórfica; o núcleo seguinte, As nossas amarras, revela uma pintura dominada pela temática das cordas e das amarras, coincidindo com uma produção centrada na representação do corpo masculino. Finalmente, em Da minha janela, o artista fecha-se num universo íntimo e autobiográfico.
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