Espólio documental de Helena Almeida doado à Fundação Gulbenkian
A doação concretizou-se por vontade da família de Helena Almeida (1934-2018), autora de um dos percursos artísticos mais relevantes da segunda metade do século XX, em Portugal, amplamente representada na coleção do CAM e bolseira da Fundação Gulbenkian em Paris, em 1964.
O espólio é constituído por um conjunto diversificado de documentação, que inclui correspondência com várias entidades, instituições e galeristas, processos de venda de obras de arte e ainda processos relativos a exposições, por vezes com as plantas das salas e imagens que documentam a instalação das obras. Das cerca de 8900 espécies fotográficas que compõem este acervo, mais de 6000 reproduzem obras de arte, permitindo uma melhor clarificação do processo de trabalho realizado pela artista entre 1967 e 2018. O acervo abrange ainda recortes de imprensa, críticas, e um conjunto de títulos, entre catálogos da década de 1970 e um núcleo de obras de História da arte e estética (do final dos anos 1950 até aos anos 70) com marca de pertença da artista e do marido, o arquiteto e escultor, Artur Rosa.
Este espólio permitirá não só uma melhor compreensão da prática artística de Helena Almeida, como também ajudará a contextualizar o panorama artístico nacional.
De acordo com o administrador da Fundação, Guilherme d’Oliveira Martins “a sua integração no acervo da Biblioteca de Arte, juntando-se ao Arquivo Alberto Carneiro e aos espólios de Fernando Calhau, David de Almeida e Jorge Vieira, consolida-a como a biblioteca de referência para o estudo e a compreensão da produção artística nacional entre a segunda metade do século XX e primeiras décadas do presente século”.
À medida que for sendo inventariado, este Espólio será progressivamente disponibilizado, servindo de apoio à investigação das 16 obras da artista que integram a Coleção do CAM e ao estudo de investigadores, curadores e críticos, quer nacionais quer estrangeiros.
Nota Biográfica
Helena Almeida (1934-2018) é um dos nomes maiores da arte contemporânea em Portugal. Fez a sua formação em Pintura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa em 1955. A sua relação com a Fundação Calouste Gulbenkian iniciou-se em 1961, com a participação na II Exposição de Artes Plásticas, a que se seguiu uma bolsa atribuída, em 1964, para aprofundar os seus estudos em Paris, e um subsídio, em 1966, também para uma estadia na capital francesa. Regressada a Lisboa, Helena Almeida fez a sua primeira exposição individual na Galeria Buchholz (1967) mostrando trabalhos onde já evidenciava o questionamento dos limites do espaço pictórico, que iria desenvolver e explorar ao longo da produção artística. Nas décadas seguintes, a artista continuou a trabalhar sobre a autorrepresentação, refletindo sobre as relações de tensão entre o corpo, o espaço e a obra, usando o seu corpo como suporte e objeto de criação, utilizando a pintura, a fotografia, a gravura, a instalação e o vídeo. O reconhecimento da relevância do percurso artístico de Helena Almeida traduziu-se na apresentação do seu trabalho no âmbito das representações de Portugal nas Bienais de São Paulo (1979), de Veneza (1982 e 2004) e Sidney (2004), assim como na realização de exposições em museus de referência: Fundação Calouste Gulbenkian (1983, 1987, 2006), Centro Galego de Arte Contemporaneo (CGAC, Santiago de Compostela, 2000) e Museo Extremeño e Iberoamericano de Arte Contemporaneo (MEIAC. Badajoz, 2000’), Centro Cultural de Belém (2004), Drawing Art Centre (Nova Iorque, 2004), Fundación Telefónica (Madrid, 2009) e Museu de Serralves (2015-2016). Filha do escultor Leopoldo de Almeida, Helena Almeida obteve vários prémios, como o 1º Prémio de Desenho, Coimbra (1969); Prémio da Bienal de Vila Nova de Cerveira (1984); Prémio da Fundação Calouste Gulbenkian (1984); Prémio BESphoto (2004) e Prémio AICA (2004).