Crises socioeconómicas e saúde mental
Os principais especialistas mundiais no estudo dos determinantes sociais da saúde mental e das estratégias para a promoção da saúde mental das populações vão estar reunidos, no final de novembro, na Fundação Calouste Gulbenkian, para a conferência Crises Socioeconómicas e Saúde Mental: da Investigação à Ação.
Ao longo de dois dias, serão apresentados estudos científicos sobre os efeitos da crise económica na saúde mental das populações e serão discutidas as estratégias que podem minimizar os riscos da crise económica na saúde mental. As crises económicas, sabemo-lo, são períodos de risco elevado para o bem-estar e para a saúde mental. No entanto, dependendo das políticas que adotam, as sociedades podem ser mais ou menos resilientes aos efeitos negativos das recessões.
Sir Michael Marmot, diretor do Institute of Health Equity (University College London) e investigador, há mais de 40 anos, em assuntos relacionados com desigualdade na saúde, será um dos oradores a seguir com atenção. O epidemiologista defende que a saúde não é simplesmente uma questão de estilo de vida, ou de acesso aos cuidados de saúde. “As desigualdades na saúde são geradas pelas condições em que as pessoas nascem, crescem, vivem, trabalham e envelhecem; e pelas desigualdades de poder, dinheiro e recursos – os determinantes sociais da saúde”, escrevia Michael Marmot num artigo de opinião publicado no jornal The Guardian no ano passado. O autor do livro The Health Gap: The Challenge of an Unequal World (Bloomsbury, 2015), onde é desenvolvido o conceito de “gradiente social na saúde”, sublinha que a saúde “está relacionada com a desigualdade das condições sociais e económicas que nos afetam a todos. Quanto mais educação, ou quanto mais altos forem os rendimentos, melhor é a saúde”. Crick Lund, da Universidade da Cidade do Cabo (África do Sul), será outros dos oradores destacados nesta ocasião, para falar sobre pobreza, desigualdades e saúde mental. No final do fórum, representantes da Organização Mundial de Saúde e do Lisbon Institute of Global Mental Health, uma estrutura que resulta do trabalho internacional desenvolvido nos últimos anos pela Faculdade de Ciências Médicas/Nova Medical School com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, deixarão recomendações estratégicas para Portugal, um país que tem sido particularmente afetado pela crise económica, mas também para outros países interessados em implementar estas propostas.