Autonomia científica dos PALOP em crescimento
O relatório intercalar MAPIS – Mapeamento da investigação em ciências da saúde dos PALOP atualiza o mapeamento da investigação em ciências da saúde nestes países entre 2021-2023, assim como redes e parcerias estabelecidas e principais agências de financiamento. Realizado por Tiago Santos Pereira, do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, este relatório é uma atualização ao estudo anterior, cujos dados eram referentes ao período 2008 – 2020.
Neste novo período continuam a verificar-se progressos no desenvolvimento da investigação na área das ciências da saúde, principal foco do estudo, bem como o aumento do número de artigos liderados por cientistas dos PALOP, em que a contribuição da Fundação foi relevante para os resultados obtidos. O efeito da pandemia ainda está presente no período em análise, levando a um atraso no processo de publicação, bem como algum redireccionamento para as áreas científicas em torno da pandemia.
O MAPIS foi apresentado num webinar por Tiago Santos Pereira, numa reflexão que contou com investigadores dos PALOP Esperança Sevene (Moçambique), Euclides Sacomboio (Angola) e Pâmela Borges (Cabo Verde).
Esperança Sevene destaca a importância da colaboração, que deveria começar entre os próprios países, para a obtenção de uma maior autonomia científica e para a investigação. A investigadora defende ainda mentoria a estudantes de mestrado e doutoramento. Esperança Sevene acredita que a autonomia científica, que já se começa a verificar em Moçambique e cuja colaboração é com parceiros fora dos PALOP, poderia aumentar entre estes países e que iniciativas como o MAPIS podem criar de ligações entre grupos de investigação e a partilha de oportunidades e contactos.
Por seu lado, a investigadora cabo-verdiana Pâmela Borges considera muito positivo o aumento da produção científica liderada por investigadores PALOP. No entanto, alerta para a necessidade de apoio aos processos de candidatura, “Em Cabo Verde precisamos de apoio nos mecanismos de pre-award às candidaturas internacionais. É preciso criar serviços de suporte. Ainda estamos no início e é fundamental para aumentar a nossa competitividade.”
A importância do financiamento local para responder a necessidades de investigação foi um aspeto destacado quer por Pâmela Borges, quer pelo investigador angolano Euclides Sacomboio. “Foi importante participar neste painel porque os investigadores foram ouvidos. As agências financiadoras podem assim encontrar estratégias para chegar aos grupos de pesquisa. Muitas vezes trabalhamos nas áreas para as quais há financiamento e não nas áreas em que a pesquisa é necessária.” Para Euclides Sacomboio, “o estudo espelha muito bem quais as instituições empenhadas em apoiar a investigação científica” e acredita que as “enormes” exigências das grandes agências de financiamento “limitam muitas vezes os investigadores a concorrer às calls”.
O objetivo do MAPIS – Relatório intercalar é monitorizar a evolução da investigação realizada na área das Ciências da Saúde nos PALOP, contribuindo para aumentar a sua visibilidade, identificar a atuação dos principais financiadores da investigação em ciências da saúde e correspondentes áreas temáticas de intervenção, tentando contribuir desta forma para tornar mais visível a investigação feita , bem como apoiar os vários decisores neste domínio, a nível nacional e internacional. De acordo com a UNESCO, “promover a investigação em África é investir no conhecimento local para enfrentar desafios globais, fortalecendo o progresso científico em benefício de toda a humanidade.”