ATOS 2024: projetos de participação artística de Lamego a Loulé
Este ano, o programa Atos dá continuidade às aprendizagens de 2023, promovendo a arte participativa como motor de transformação cívica. Com um calendário repleto de atividades, que incluem projetos artísticos, fóruns, um programa de formação, uma conferência, um documentário e uma publicação, esta iniciativa conjunta do Teatro Nacional D. Maria II e da Fundação Calouste Gulbenkian visa potenciar a participação das comunidades em várias regiões do país.
Desde abril, seis estruturas artísticas – Gira Sol Azul, Burilar, PELE, Coletivo Espaço Invisível, Discos de Platão e ondamarela – estão a desenvolver projetos em locais como São João da Madeira, Lamego, Loulé, Funchal, Ponta Delgada e Évora, com vista a fomentar a participação artística e fortalecer a democracia cultural. Neste artigo, damos a conhecer as atividades realizadas em três dos territórios.
Impulsionar a participação comunitária em Lamego
Em Lamego, o coletivo Burilar começou a implementar o seu projeto em abril. Entre as atividades já realizadas, destacam-se entrevistas a 30 pessoas entre os 8 e os 82 anos, residentes no centro e nas freguesias adjacentes a Lamego, sobre a sua relação com as práticas culturais do município: o que é a cultura? O que se passa no teatro é para mim? Para que serve o Teatro Ribeiro Conceição?
O arquivo de testemunhos deu lugar à instalação “Falta-nos a tua opinião”, exibida no largo do teatro da cidade durante os meses de junho e julho, para dar visibilidade ao pensamento da população sobre a cultura do município.
Num terceiro momento, o coletivo promoveu um “jogo-auscultação” no Mercado Municipal, partindo de um menu de degustação com produtos do mercado para indagar os lamecenses sobre cultura, arte, território, participação e cidadania. Paralelamente, foram organizados encontros com artistas locais e com a equipa da Divisão da Cultura do município e do Teatro Ribeiro Conceição, para partilha de ideias e definição dos próximos passos a trilhar.
Foi também esta cidade que acolheu o primeiro fórum Atos, reunindo 31 participantes no Centro Cívico de Lamego para refletir sobre desafios e desejos para a democracia cultural, equacionando hipóteses e ensaiando soluções como a implementação de instrumentos de mediação de objetos artísticos nas escolas; visitas de portas abertas a associações; colaborações interassociativas; adaptação dos horários de programação ao ritmo de vida da população; entre outras.
Reconectar comunidades em São João da Madeira
Em São João da Madeira, a Gira Sol Azul está a trabalhar até novembro para reconectar pessoas e lugares através da cultura e da arte, com um projeto interassociativo e intergeracional. Em parceria com a Casa da Criatividade, vai desenvolver um podcast com diferentes rubricas, procurando promover a ação cultural local e criar um espaço de encontro que represente as diversas vozes da comunidade.
Desde abril, a associação tem desenvolvido experiências colaborativas e jogos de reflexão sobre as práticas culturais locais. De maio a julho, ocorreram cinco sessões quinzenais chamadas “Ao Encontro”, que reuniram vários agentes culturais e cidadãos do município em jogos teatrais. Foram ainda realizados encontros com alguns grupos para desenvolver um trabalho mais personalizado, de que fizeram parte a banda de música Arte do Som, a Viarco, o Centro de Arte Oliva e o jornal O Regional.
O fórum Atos em São João da Madeira juntou 41 participantes para discutir cultura e democracia, incluindo representantes da Câmara Municipal, associações, indústrias e instituições locais, artistas, elementos da imprensa regional e ainda outros cidadãos do município. As conclusões destacaram a importância de incentivar a produção cultural e promover políticas que estimulem a diversidade e a intergeracionalidade nas práticas artísticas. O próximo fórum abordará o impacto do programa Atos no município e o futuro das práticas artísticas participativas no território.
Fomentar o diálogo cultural em Loulé
O coletivo PELE tem colaborado com o município de Loulé para refletir sobre práticas de participação cultural, ativando espaços de aproximação entre os agentes culturais do território e as suas comunidades. Nos primeiros meses, o coletivo realizou encontros com associações locais e coletivos já estabelecidos e criou um questionário para compilar os seus testemunhos. A partir das informações obtidas, foi realizada uma análise sobre as vontades e necessidades das organizações locais e as possibilidades de ações conjuntas.
Durante o verão, o coletivo PELE organizou um laboratório intitulado “Práticas coletivas de inquietude e transformação”, onde participaram cerca de 30 pessoas para discutir as potencialidades e desafios culturais de Loulé. Desse encontro, surgiu o grupo Pessoas Agitadoras da Cultura, que visa disseminar ideias e práticas para reforçar metodologias de participação cultural. Seguiu-se um segundo encontro dedicado à experimentação artística e alargado a outros participantes, com o objetivo de fortalecer a identidade e a missão do grupo e definir equipas estratégicas no âmbito das políticas culturais locais.
“O que está ao nosso alcance?”, “O que queremos fazer enquanto grupo?” foram algumas das questões levantadas. Os resultados dessas discussões estão a orientar as ações do coletivo para os próximos tempos.
O programa Atos prossegue a sua atividade nos próximos meses, transformando a paisagem cultural dos territórios pela mão da arte participativa. Nos dias 18 e 19 de outubro, a conferência ATOS para a Democracia Cultural vai partir da experiência do programa para aprofundar a discussão sobre o papel das práticas artísticas participativas e da democracia cultural. O encontro será de entrada livre e conta com uma conferência aberta no dia 18 e duas oficinas dirigidas a profissionais das artes participativas no dia 19, na Fundação Calouste Gulbenkian.
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